quinta-feira, dezembro 24

Mensagem de Natal

Por mais que o neguemos e façamos piadas com o intuito de revelar superioridade intelectual, esta trampa do Natal é uma altura um bocado fodida para o pessoal solitário. Ainda por cima está de chuva e não se podem dar passeios na mata, fazer leituras numa clareira qualquer, afagar os animais abandonados também não se recomenda, que agora com as chuvadas, cheiram mesmo mal. O Cavaco diz para termos filhos e apoia-nos com o seu ar seráfico e sorriso de logrado, mas, não providencia o parceiro necessário para que tal aconteça. Os meus vizinhos têm filhos e nunca os ouvi a dar uma foda, mas oiço tanto o barulho dos talheres quando furiosamente tentam trucidar o bife de vaca como a música dos ídolos no domingo à noite; será que depois de se ter filhos, acaba-se o sexo? Incitam-nos a comprar coisas e a pular ou a abanarmos a barriga de pândego se formos demasiado pesados para pular; a ser felizes e apreciar músicas cheias de rimas e mensagens sublimares para criancinhas filhas da puta chantagiarem os pais (que têm pavor de serem piores que os outros pais) com as suas necessidades e desejos fabricadas por um publicitário qualquer ou por uma licenciada em psicologia do departamento de marketing da empresa mais maligna de sempre. Olho em meu redor quando vou comprar o pão ou os kiwis e quando não fico completamente irado por venderem alho-francês que não cabe nos sacos e com toda aquela rama inútil que só faz peso, ponho-me a imaginar quantos daqueles presentes que as pessoas sozinhas e com um ar suspeito, compram, serão para filhos ou sobrinhos imaginários. Felizmente os genes ou alguma coisa, providenciaram que me tornasse um tipo mesmo sovina, logo, não entro nessas escapatórias vicariantes. Então, quando entro em casa não fico a olhar para as tralhas que comprei para ninguém, não deito ao chão um par de presentes que agora, enquanto me apetece morrer e oiço a Gymnopedie nº 1 decido que vou doar a uma coisa qualquer de caridade, para parecer a mim próprio que foi essa mesmo a minha intenção original, mas já ninguém aceita os presentes, já é tarde e ninguém quer saber, ninguém quer a porra de uns livros educativos sobre animais e história escrita por banais descendentes de vencedores. As outras pessoas, as acompanhadas, também não tem cuidado nenhum e porque também são somíticas, enviam uma mensagem pelos dois, assinado Sr e Sra qualquer coisa. Bastar-me-á esperar um pouco, talvez uns anos e lá terei notícias de uma infelicidade que se anunciou desde sempre nos meus presságios. Está tudo condenado à infelicidade. A insatisfação é forte e a dúvida é uma meretriz danada que nos amaldiçoa sem pudor; ou morremos por dentro, ou apagamos a chama e cessamos o nosso desejo, ou nos CONFORMAMOS, ou então, nunca conseguiremos paz, um laivo de felicidade mais perene. Esqueci-me completamente da minha intenção primordial, foi-se-me do consciente. Raios partam os devaneios que nos descarrilam da monotonia produtiva, da assertividade lexical. ABAIXO! E nesta altura, não que não aconteça nas outras, pensamos de maneira mais intensa nas coisas, porque os estímulos específicos aguçam-nos as memórias episódicas; doí-nos mais nunca termos falado com o pai, custa mais ter perdido alguém, magoa doutra maneira ver seres a passar frio e fome. Então vou-me apercebendo de quão boa pessoa sou e vou-me vendo num papel indesejado, encontrado como samaritano e penando cada vez mais por estes dias serem como são.

segunda-feira, dezembro 21

Sem título

Cresce-se no sítio onde se cresce e há meses sempre melhores que outros. Saltos atrevidos na casa em obras, quedas de metros a pique, lutas entre irmãos, sangue, ossos partidos. Dias que passam de uma maneira tal que se cravam na nossa memória; dias que nem existem mas que se recordam melhor que milhares de outros que se fizeram sentir de forma tão asséptica, tão anestésica, que é como se para nada tivessem contado. São tantos os dias que não contam para nada. Tenho recordações da minha imaginação, memórias de um olhar que despoletou horas e horas de uma vida que não foi vivida, de momentos que nunca chegaram a ocorrer e nem por um segundo pensei que realmente pudessem acontecer. A erva todos os anos mudava, naquele baldio, secava e ficava viçosa outra vez; vezes sem conta a observava e subitamente, é isso que atribui sentido a todo um passado - ridículo. Agora a imaginação não me conduz para esses caminhos, para esses recantos de prazer e realização, leva-me apenas para o lado mais grotesco, bizarro, descrente. Perdi os sorrisos de sincero deleite, os arrepios de tão atrevida e prazenteira suposição; agora rio-me porque as coisas que imagino têm piada, têm graça mas não me aquecem a alma nem queimam horas na cama quando até temos sono. Agora tenho insónias duras e violentas, deixei de ter noites brancas em que de maneira rocambolesca, dançava na neve ou via o reflexo do sol poente nos teus braços desnudados, agora tenho insónias preenchidas por um agoniante vazio que sou eu, Nada.
Dantes ainda sofria e era algo em que me aplicava e obtinha bons resultados, sofria com as desilusões, com o mal que me faziam, com todos aqueles planos abortados. Já não posso sofrer! Já não posso sofrer porque o sofrimento que causei não me autoriza tal veleidade, não me deixa a consciência em paz, proíbe-me as lágrimas que tentam arrombar uma idiota barreira de masculinidade adquirida por aculturação. Fiz-lhe tanto mal, a uma, a outra, a alguém. É um turbilhão dentro do mim que me faz sentir ridículo por me considerar monista. Tudo entra, nada sai.
Limpo os olhos e seco as mãos que lavei na água fria, olho-me no espelho e sinto desdém. Compro porcarias para comer e meto-me a correr esperando ficar ainda mais anestesiado, desta vez pelo frio e por uma qualquer falta de energia pois não como há umas 30h. As reverberações e os lamentos continuam a querer sair mas não posso deixar, não posso ser hipócrita, não posso ser um merdas autocentrado numa vulgar identidade, não posso ser como eles, como os que oiço, tenho obrigações.
Sobram-me os sonhos, que são quase sempre belos e agradáveis, leves e ternurentos. Quero aprender a controlá-los, quero torná-los lúcidos e passar a viver, a realizar-me num mundo onírico, quero esquecer estes 73kg e sentir-me sempre leve, capaz de voar, capaz de amar. Quero poder voltar a poder sofrer e isso, só mesmo nos sonhos...

sábado, dezembro 19

Perspectivas

Andando pela Feira da Ladra, desbravando aquela micro-economia de mercado, ouvi o seguinte breve diálogo:

Senhora – “Quanto custa o colar ?”

Homem – “ 1 euro”, responde friamente.

S – “ Hum, ofereço-lhe 50 cêntimos…”

H – “ Não minha senhora, o preço é 1 euro “

S – “ Por esse colar não lhe ofereço mais do que 50 cêntimos “

H – “ Não minha senhora “

Ele, com aquela ponta de ódio que serve de interlocutor às relações vendedor-comprador nesta feira, e, aproveitando o facto da senhora ter iniciado a marcha para outras bancas, lança para o ar, com uma ponta de veneno:

H – “ Isso é que era, 50 cêntimos, hoje em dia, nem para um café chegam “

Sentindo o peso da mensagem, a senhora inverte a sua marcha, dirige-se ao vendedor e diz-lhe:

S – “ 50 cêntimos não chegam para um café, é certo! Mas sabe para que chegam? Para um quilo de arroz. E, ainda lhe digo mais: – Um quilo de arroz de tomates dá para cerca de 10 refeições.”

e ainda acrescenta, perante um vendedor silencioso:

S - “Sabe, tem piada… às coisas, a que as pessoas dão valor hoje em dia.”

domingo, dezembro 13

Outono, quase Inverno

domingo, dezembro 6

Convite

Hoje tenho um convite para qualquer pessoa que esteja a ler isto: dêem uma olhada na lista de contactos do MSN, depois voltem. Está cheia de metáforas, não é? Algumas estão em inglês e tudo, com sorte, qualquer coisa num francês desaprumado. Palavras que beijam, abstracções sólidas etc etc. Usar metáforas é a mesma coisa que aderir a uma tribo urbana, passar o eyeliner preto ou vestir como a colega do Cacém se vestia durante os tempos de faculdade (haveria penteado mais petulante?), servem apenas para pessoas desinteressantes parecerem profundas e cheias de significado.
Claro que também servem para colmatar dificuldades de expressão e ainda podem ser utilizadas como estratégia heurística de engate.

quinta-feira, novembro 26

Mito

“Santana à Canzana” reivindica um graffiti numa das travessas desta cidade, que me faz sempre sorrir, não tanto pela mensagem anacrónica, mas pela rima e pelo jogo de palavras. Também confesso, gosto da palavra canzana, especialmente quando dita por um grande amigo meu no seu sotaque carregado da nossa cidade invicta.

Consigo me transpor para aquela tarde de inicio de Verão, como viramos uma vez uma lancha na rebentação atlântica da praia da Sacor, miraculosamente, não acertando nas rochas daquela praia de Leça. Tudo isto, porque uma das nossas amigas, campeã de natação, ao subir para a lancha perdeu o soutien e nós ficamos perdidos naquele impressionante par de mamas. Um dia fomos comprar um maço de tabaco a Espanha de mota, e pelo meio predar aquela rapariga provinciana, inocente de Mirandela, só porque sim! Como naquela vez que fomos acampar para a praia de Santa Cruz com umas amigas. Estávamos todos a dormir ao relento, sacos camas justapostos paralelamente, e tu, no centro daquela espécie de código de barras, começas a comer uma gaja, aquela que tinha uns dentes horrorosos, mas era muito bem feitinha, e ninguém se descoseu dali. Como tu, um analfabeto informático, aprendeste a mexer em computadores no advento da internet telefónica, tudo porque um dia te mostrei o mIRC, e tu detectaste aí uma fonte inesgotável de quecas fáceis. Lembraste, quando combinaste e concretizaste com uma rapariga para uma tarde de sexo em Lisboa, tudo isto sem conversa, apenas por mensagens escritas, sendo ela, das melhores amigas da tua namorada da altura? As risadas que nós demos com aquela surda com que andaste a sair, e pela forma como descrevias os gemidos dela; Aquele telefonema a meio da noite com voz enojada, porque a gaja do Barreiro se borrou toda enquanto faziam sexo anal e nem esse facto a parou, e tu tiveste de continuar agoniado. Como percorreste o país, naqueles 6 dias, com encontros marcados com mulheres de meia-idade, solteiras e divorciadas. As brasileiras, a mulatinha, a virgem, as professoras, a tua cunhada, a outra tua cunhada, a tua prima, a "mãe", a amiga da namorada do meu irmão que tinha 17 anos, a que cheirava mal, a fisioterapeuta… Aquela, que combinaste para fazer sexo em grupo, só porque querias confirmar se a pila daquele teu amigo era tão grande como diziam, e como insististe para nos juntarmos os quatro mais a senhora. Como me contaste várias vezes que, por vezes, metias uma caçadeira na boca e dedo no gatilho, e apenas a lembrança dos teus filhos te impedia de atirar a toalha ao chão.

Soube, há algum tempo, que me tentaste convidar para ser padrinho do teu casamento, agora que pareces já ter atingido uma certa maturidade ou estabilidade emocional e aparentas estar mais feliz. Desculpa-me, mas não foi possível. Isso, significou o final de uma Era, a nossa. Já não há espaço, nem vontade para acrescentar às inúmeras aventuras pelas quais passamos juntos. Os teus 42 Anos são uma boa idade para assentar.

quarta-feira, novembro 25

Rape Jokes - Adendum

"A crise já passou, podem continuar a dormir" leio num cartaz no início de uma transversal da Calçada da Glória, onde gosto de passar quando caminho, porque lá estão plantadas umas árvores que normalmente perfumam o ar no verão, e, além disso, vivem muitos gatos vadios, naquilo que me parece ser uma casa abandonada. Hoje está a chover, os perfumes agradáveis estão na época de defeso e apenas o amoníaco do cheiro a mijo de gato me irrita levemente as narinas.
À saída do metro paira uma horda de monhés e chineses a vender guarda-chuvas, antecedidos por uma amálgama de gente recolhida na saída da boca. Olham para o céu...
No meio da multidão, ouço o meu nome. É o senhor Zé. Mais uma personagem do Bairro Alto, muito magro, de cara chupada, ex-colega, ex-alcoólico tornado ex-abstémio. Chamam-lhe o Zé das Travessas, porque está sempre nas encruzilhadas do bairro, a tomar conta da vida alheia. Tem uns expedientes estranhos, com a elite das ruas mais mal afamadas. Curiosamente, vive numa rua e não numa travessa, numa casa da câmara, sem luz nem água - A casa da mãe, versão mais baixa e mais velha dele, até na falta de dentes e no ranger dos maxilares. Abandonou a casa aos 72 anos para ir viver o amor unidireccional, na bica, com um homem muito gordo, que se apaixonou pela sua mísera reforma. - " Não pagas nada?", diz ele, atalhando. - "Café", respondo, talvez com um ar enfastiado. Depois de alguma conversa aborrecida, algo incoerente, em que me narra as suas tentativas para engatar uma enfermeira ou auxiliar do cento de terapia ocupacional que frequenta no Hospital de dia, ao que eu respondo, com tacto, para esquecer essa paixoneta, porque perante as evidências o que ele me narra não há um mínimo de reciprocidade ou interesse...Os Pink Floyd tiveram a sua década de ouro nos anos 70, que a linha condutora das letras do Dark Side of the Moon, fala-nos das diferentes formas de nos alienar-mos nesta sociedade, e, como, cada vez mais faz sentido. Trauteio mentalmente a Brain Damage - quando chegar a casa tenho de meter este álbum no MP3, começo finalmente, após quase uma semana, a ter vontade de cagar, que estará a máquina a fazer neste preciso momento...Gera-se um silêncio, em que ficamos os dois lado-a-lado, duas figuras a contra-luz, a olhar para as portas de vidro, para as pessoas que passam e para os padrões que as gotas desenham na superfície embaciada... - " Sabes pá, qualquer dia apareço aí morto " - " E ninguém quer saber, se isso acontecer..." acrescento mentalmente.

terça-feira, novembro 24

Rape Jokes

já conheci algumas raparigas no meu ciclo de vida. Baixas/altas, magras/gordas, portuguesas/estrangeiras, Completamente insanas/menos insanas... Todas diferentes, algumas únicas... Mas numa coisa são todas iguais: Nenhuma tolera piadas sobre Violações, mesmo que estas sejam articuladas de forma inteligente e com um timing perfeito. Será este o arquétipo feminino de uma Vaca Sagrada?

segunda-feira, novembro 23

4 Chords of the Apocalypse

I hear it in your silence, when you don't speak
What was funny then, isn't funny anymore
I can hear it in your voice, there's always a catch
We're going nowhere, and we're going there fast.
Anything to watch while we are waiting for this Apocalypse.
What more is there to do?
It's nice to be important, but so close to being despised
It's more important to be nice, I guess, than being wise.
I'll take your shoppin', I'll take you dancing too
I'll take you out, all the things you want to do
I'll give you diamonds, and I'll give you space
So be with anyone you want, it's alright with me.
Our time is over
Don't you know that if a time-warp was open
I'd stay right in my place
That war is over.
I hear it in your silence, when you don't speak
There is a quiet crying rage, burning inside you so deep
I'll give you anything, but I'll give you problems
So be with anyone you want, it's alright with me.
I hear it in your voice, can see it in your lips
There's always a catch... I guess that's alright with me
No one's around, but the map says "you are here"
Now I can hear loneliness screaming in my ear.
Our time is over
Don't you know that if a time-warp was open
I'd stay right in my place
The war ain't over yet
This war ain't over yet...
Being nice is only hard when others aren't
Our time is over

domingo, novembro 22

Flecha

Andava eu, por volta das 12:45 a correr na Mata da Machada (é uma boa hora; como vou almoçar a casa da minha mãe, tomo lá banho e assim poupo no gás e na água), quando, ao subir uma íngreme picada, vislumbro um cão no topo da mesma, que impávido, me olha fixamente. Estava eu de atalaia a atingir o meio da subida quando vejo, em cima de bicicletas, o dono do cão e o seu presumível filho; mais descontraído, continuo a subida. O cão, sempre sem ladrar, começa a correr na minha direcção, aproveitando, como um bom entendido em tácticas de cavalaria, o declive a seu favor. Ao ver aquele canídeo de porte médio e pêlo castanho curto a investir na minha direcção, decido parar, mas o dono diz para eu estar à vontade, que ele não fazia mal. Então retomo a minha corrida e o cão mesmo a meu lado, depois de um tête-à-tête de um centésimo de segundo, dá-me uma dentada no braço. E que dentada. Eu solto um daqueles habituais e muito masculinos ais ao mesmo tempo que o dono me ignora e repreende o cão «Flecha, ai ai ai, estás a aparvalhar?!». Nunca fui de recear cães, sempre achei que tinha uma good vibe e que eles sentiam isso mesmo, então gostavam de mim. Agora a única coisa que tenho é o braço inchado e uma grande vontade de rever o cão e afagar-lhe o pêlo, talvez ter sexo com ele, fiquei mesmo com vontade de o conhecer melhor, deve ter uma personalidade interessante. Gosto mesmo de cães. Nham.

sábado, novembro 21

Pequeno Momento Interactivo

Qual o sabor do vosso arroto preferido? (VQR, desafio-te a seres atrevida nesta)
Porque são os brasileiros extremamente irritantes?
Que explicação encontram para o facto de que todos os alunos do sexo masculino da faculdade de psicologia, com mais de 35 anos, deixarem tamanho rastro de putrefacção interna (cheiram mal porra!)?
and
Why she seems so hard to get?

sexta-feira, novembro 20

SIMS

Comprei consolo, no feminino.

Nada

A amálgama de coisas baratas reverbera-me. Escuto os distantes sons da cidade que me envolve, me agrilhoa, me liberta, sons que me acodem com a sua metálica melodia de esperança.

No outro dia meti conversa com uma dentista - já no escuro e bastante suado – ela, no meio de alongamentos, contou-me toda a sua vida ao mesmo tempo que me intimidava com uma demasiada aproximação física e provincianismos excessivos atrozmente marcados por uma peculiar plasticidade facial.

Não consigo entender e às vezes, por mais idiota que pareça, perco tempo a pensar nisto: como consegue quase toda a gente dizer tchau tchau e bjinhus no final de um telefonema? Pode até ser o tipo mais azeiteiro de todos, ressacado, embriagado, que a expressão não é esquecida; pode até ser o tipo com a voz mais grossa, de uma masculinidade bizarra e a cheirar a testosterona e a urina concentrada, que a expressão é usada como algo primário, fundamental, como aqueles urros primatas que permitem o natural avançar do seu frívolo dia-a-dia.

Porque motivo a única verdadeira forma de perdão entre desconhecidos é a condescendência?

Parece o ruído do mar… o eixo norte-sul, a segunda circular. O Atlântico… rugidos de motores e ar, ondas e oscilações permanentes que me chegam ao sensor e me remetem para dias mais húmidos e quentes, penumbras de pés gelados e mergulhos encapuçados pelo sinistro breu que não me inibe. Vento a agitar bandeiras e cordéis, a remexer a areia demasiado fina, demasiado meteorizada, demasiado gasta por calosidades e desperdícios de juventude que se esvai de forma vertiginosa. Que sangue mais tóxico o que corre nestas melosamente ruidosas artérias, vrrrrrrrrmmm, vrrrrrrrrrmmm, constante e ao mesmo tempo compassado, sincopado e aliterado…

De noite faz algum frio e de um aglomerado de gente à entrada/saída da faculdade de psicologia, notam-se clarões sucessivos que acompanham os risos exagerados pela volatilidade social de alguns elementos carregados de carências epidermais. A máquina fotográfica é, como o cigarro, um grande ansiolítico social. Podemos não nos divertir, nem querer ali estar, mas temos uma forma de colorir o tédio e de parecer bem; procura-se um momento qualquer sem significado nenhum, registamo-lo e antes que nos apercebamos, já estamos a bater uma fora de casa.

Podemos, como faz a maioria das pessoas, viajar de encontro ao aborrecimento, mas vá, vamos aos landmarks de uma cidade horrível cheia de gente fútil e antipática e fica tudo registado para mostrarmos às pessoas. «ai ai ai, preciso de uma prova de que aqui estive» E assim se combate a sensação de inutilidade de uma viagem, assim se combate o vazio, a não permanência de algo de que as pessoas tanto precisam para encontrar alívio para o arrependimento de não terem comprado um ar condicionado ou um carro novo.

O meu sono irrita-me com os seus sádicos caprichos e um respirar masculino que não o meu, faz-me perceber quão feio é o mundo. O desespero é tentador e está acessível a qualquer parte do corpo, torna-se difícil afastá-lo na totalidade. Fico tenebrosamente feliz por haver quem crie músicas tristes, mesmo muito tristes, morbidamente lentificadas e indicadoras de grande (des)arranjo interno; se não houvesse quem as fizesse, sentir-me-ia completamente mudo e o meu coração nunca escutaria a arrepiante vibração da melancolia percutida.

Agora é dia e as nuvens lácteas estão completamente imóveis, não fosse o ligeiro abanar das grandes coníferas, eu pensaria que por aqui teria de ficar eternamente.

segunda-feira, novembro 16

You're beginning to feel the exhaustion.

So I start walking.

I can't get enough of your fear.

domingo, novembro 15

Do you want love...

I'll make you feel miserable, with the proper dose of happiness.
Não posso com a tua felicidade. Agonia-me. Devias permanecer como sempre te conheci: frágil e dependente.
Agora que me fazes sentir egoísta, de pouco serves.

quarta-feira, novembro 11

Bairro Alto I

segunda-feira, novembro 9

Re-leituras

“ Everything failed to subdue me. Soon everything seemed dull: another sunrise, the lives of heroes, falling in love, war, the discoveries people made about each other.

(…)

There wasn’t a clear , identifiable emotion within me, except for greed and, possibly, total disgust. I had all the characteristics of a human being – flesh, blood, skin, hair – but my despersonalization was so intense, had gone so deep, that the normal ability to feel compassion had been eradicated, the victim of a slow, purposeful erasure. I was simply imitating reality, a rough resemblance of a human being, with only a dim corner of my mind functioning.”

in “ American Psycho” - Bret Easton Ellis

quinta-feira, novembro 5

Paradoxo II

O escutismo é o maior decepador de virgindades de toda a história da humanidade.

terça-feira, novembro 3

Pateta

Há uns minutos atrás, um colega meu, após uma conversa aparentemente despropositada sobre a sua necessidade de perder peso, revelou-me o acto recente que havia ingenuamente cometido. Tinha, com os seus olhos vivos e sequiosos de beleza feminina, reparado numa rapariga, pelos vistos atraente e a mesma, por um daqueles semi-acasos do destino, sentou-se perto dele. Ele, galante e esquecendo a representação mental de si próprio, foi ter com a tipa de botas até aos joelhos e muito educadamente disse-lhe que a achava "muito gira" e perguntou-lhe se podia saber o seu nome. Ela respondeu negativamente e ele foi-se embora para desespero de todo o sangue que havia entretanto sido chamado à genitália.
Ao saber de tudo isto e apesar de me doerem as costas, elogiei-o o mais que consegui, gabei-o, admirei-o duma forma que apesar de dever muito à sinceridade, pareceu, certamente, verosímil. Disse-lhe que assim é que devíamos todos ser, não devíamos deixar que tudo nos limitasse, qualquer coisa nos pusesse limites. Porque raio haveria ele de conhecer apenas os colegas de aulas ou de trabalho, os familiares ou amigos de amigos? Disse-lhe que ele devia tratar do seu próprio destino e rir-se dessas subtis conspirações que nos limitam até ao tutano. Ele abriu um pouco aquele ar apatetado que tinha, deixou o sorriso doente e os olhos de tristeza abissal recuperaram uma vitalidade para lá daquela que apenas nos dá forças para nos dirigirmos ao precípicio. Animou-se um pouco, por uns instantes. A animação não durou muito tempo e eu senti que os elogios que eu fazia, a admiração que fingia sentir, estava a perder o efeito, a esvair-se por entre as palavras ocas que proferia. Foi-se embora, não suportou a rejeição apesar de concordar comigo quando eu lhe insinuo que se ela lhe dissesse o nome, conseguiria exactamente o mesmo; sente-se mal e passa de uma pessoa muito alegre e extrovertida para um farrapo humano que até mete dó. Foi-se embora cabisbaixo, argumentando que ia estudar. Dedicar-se aos estudos para esquecer, penso eu, porque na realidade, não se conseguirá concentrar na matéria e o neurótico arrependimento por ter tomado tão bravia acção, irá consumi-lo nas próximas semanas. Será que ele morreu, será que vai mudar e deixar de ser o mesmo tipo extrovertido, alegre e apatetado?

domingo, novembro 1

15 dias

Uma vez estive encontradamente apaixonado. Não havia momento complicado que após um breve fechar de olhos, não se tornasse num sorriso. Não havia um daqueles meus crónicos ataques de melancolia que não terminasse com uma lágrima de alegria. Todo o mal era substituído pelo anúncio do meu próprio regresso, por a cada minuto que passava, bom ou mau, péssimo ou horrível, estar cada vez mais para breve o nosso reencontro. A chuva caia, molhava-me, mas era tudo suave, era veludo existencial que apregoava ao meu ouvido, que ria baixinho e soltava murmúrios cheios de um calor que apesar dos quilómetros, não se dissipava nem amainava para uma insípida tepidez. Estava sempre ali, a meu lado, estava sempre por perto, com palavras simples, frases curtas que pouco continham para lá da certeza do sentimento que eu lhe causava. Mas não me conseguia lembrar do seu rosto e isso por vezes inquietava-me, durante um par de minutos, intrigava-me como poderia sentir aquilo tudo, como ela poderia ser a minha panaceia, a minha dopamina, serotonina, acetilcolina, se eu nem conseguia recordar os traços de sua face, a cor exacta do seu cabelo, o formato do seu corpo que por uma vez havia apaixonadamente possuído.
Volto passados quinze dias e subo as escadas para o seu apartamento medíocre mas bem localizado, lá em cima, a porta destranca-se e abre-se apenas um pouco, ela não sai para me ver a subir as escadas, apenas uma faixa de luz amarela se projecta para a escadaria gasta de tantas vezes ter sido pisada. Estou muito nervoso e sei que me espera algo de estranho. Entro e noto-lhe um leve sorriso nas linhas da face, um certo constrangimento corporal que a faz mover-se sem sentido de um lado para o outro, perguntando insistentemente, sem querer de facto perguntar, se eu queria alguma coisa. Tínhamos estado juntos apenas uma vez, de madrugada, ali naquele quarto que também fazia as vezes de casa, agora, apesar de todas as juras, de todas as dores que clamavam resultar da ausência de nós, agíamos de forma pesada, como se fossemos um motor sem óleo, sem qualquer lubrificante que harmonizasse, silenciasse os movimentos que deveriam fluir de forma melíflua. Levo uma mão à dela para a deixar saber que as coisas não haviam mudado, acalma-se um pouco e puxa-me obsessivamente a camisa para baixo, inquieta, nervosa, sem me olhar nos olhos. O sexo normaliza tudo, a intimidade deita abaixo barreiras, aforismos, fantasias, inspiração. Um fim-de-semana comunhado e sei que me enganei, sei que não te amo. Só me apetece ir para casa e ficar só.
Será possível amar, presencialmente, a mesma pessoa, mais que três horas por semana?
Amei durante quinze dias inteiros.

quarta-feira, outubro 28

IC 19 parte 2

sábado, outubro 17

Under pressure - David Bowie + Queen

"...Why can't we give love give love give love give love give love give love give love give love give love 'Cause love's such an old fashioned word And love dares you to care for The people on the edge of the night And loves dares you to change our way of Caring about ourselves This is our last dance This is our last dance This is ourselves Under pressure Under pressure Pressure..."

quinta-feira, outubro 15

frases e palavras que detestoporque são o reflexo da vaguidade da sociedade e do trabalho (que já não é tão honroso como pegar numa sachola)

alguém escrevia aqui que temos polegares oponíveis e esta conquista formidável não nos fez mais do que rumar a centros comerciais nos domingos. só quero dizer que a forma de trabalhar de hoje em dia me irrita profundamente porque é uma mentira. É uma mentira porque não se pode considerar trabalho estar sentado a um computador. Porque nesse caso ninguém antes da proliferação peçonhenta dos computadores trabalhou. E, na minha opinião, esses trabalhavam muito mais do que isto que hoje se apelida de trabalho e nos faz ficar irritados e desesperados com a vida que levamos dentro de nós próprios e uns com os outros. passemos às frases "trata-se de uma aposta na transparêcia" "temos de nos sentar e discutir isso" "porque os nossos parceiros sociais..." "networking" "coaching" "empreendedorismo" "...é um procedimento..." "logística" "reunião semanal de equipe" "consumíveis de escritório" "escritório" quando ouvir mais umas ponho aqui.

terça-feira, outubro 13

Estranha forma de profilaxia

Aviso: Não pretendo com a "entrada" que se segue, colocar a vagina num pedestal, longe disso, aliás, o meu histórico fala por mim, se analisarmos os meus textos encontramos tanta misoginia que podíamos fazer uma vindima só disso.
Há formas muito subtis de homossexualidade, dizem por ai. Não sei se concordo ou não, nem sei se de facto por ai dizem tal coisa, todavia, julgo ter encontrado uma dessas ténues manifestações de idiossincrasia libidinal. Existem tipos que falam de mulheres e inclusive chegam a empregar com grande regularidade termos brejeiros e aporcalhados que até a mim conseguem constranger, contudo, apesar do tom jocoso, das interjeições e maneares da cavidade bocal e do palato, parecem sempre demasiado assépticos, parece que antes de falarem de mulheres asseguraram-se que agarravam os talheres com as mãos certas e que meteram o guardanapo no colo, não vá a conversa conspurcar qualquer coisa. As referências que fazem são demasiado óbvias e apenas visam aquelas tipas mais consensuais, mais unânimes, que aparecem na tv e sob as quais existe uma espécie de néscia opinião pública generalizada, alicerçada em chalaças e cobiças incipientes. Dá ideia de terem medo de se enganar, medo de elogiar daquele modo que acima descrevi, um transexual, ou uma tipa muito feia, porque interiormente sabem que lhes é indiferente, mas como querem parecer machões, adaptados e assertivos, usam a estratégia de coping descrita.
Não lhes vemos um sorriso apaixonado, um ar sonhador, um revirar de olhos que tenta encontrar aquele porto onde ela está, aquele sonho onde outrora apareceu cheia de viço e luminosidade incandescente. Nem tampouco fazem piadas mais elaboradas, como «a unesco devia por os olhos naquele rabo», não, são apenas ejaculações de construtos apreendidos a muito custo através dos seus esquemas de sobrevivência no mundo em que ainda imaginam haver muito preconceito, mas não tanto claro, como na sua própria representação interna.

segunda-feira, outubro 12

"a IC19 é uma incógnita"

Isaltino morais (!) conseguiu 41,5% das votações, tendo assim cinco mandatos (cinco vereadores). pá.... eu acho isto incrível. COMO É QUE um tipo que é acusado e condenado, espera, deixa-me repetir esta frase porque aparentemente, das dez pessoas em oeiras que estão a ler isto, quatro houve que botaram a cruz no nome dele, CONDENADO, espera, deixa-me soletrar, C-O-N-DE-NA-DU! seja eleito outra vez? como é que é possível isto? que merda de cidade, que merda de país, que merda de gente que não enxerga nada pá! Dirão assim: ah mas os políticos são uma cambada de mentirosos, pederastas e charlatões, achas que os outros são diferentes ramelinhad'oiro?! Ok, está bem, mas ao menos que o façam às escondidas e que não apresentem uma cara de bubu balofo maléfico que tem a coragem de ir para um tribunal e apresentar uma candidatura a seguir. Mas não há uma lei que proíba um gajo que acabou de ser condenado de ganhar umas eleições? "Pronto, podes candidatar-te meu velho, mas só pela piada da coisa, porque ganhar não ganhas, achas que isto é o quê, portugal?"(reparem no pê minúsculo p.f.). Porque, parece-me, o papel do tribunal aqui devia ser precisamente o papel de um árbitro imparcial. Já que o isaltino ganha mas aldrabou primeiro, então nós (do tribunal) deixamos que ele ganhe, porque o povo é burro mesmo e não há volta a dar-lhe, e depois aldrabamos. As pessoas precisam de ser protegidas! Então não é para isso que serve a justiça? Para proteger os bons cidadãos dos meliantes e malandros? Claro que é! (yeah right). Então, se é, por que é que deixa o isaltino ganhar? As pessoas precisam de ser protegidas da sua insanidade eleitoral, da sua estupidez democrática! Devia haver uma comissão para esse efeito: "AGGMÉI - ah ganhastes ganhastes mas és ilegível". Está tudo parvo ó caralho.

sábado, outubro 10

Num qualquer gerúndio

"Nem feliz nem contente... Estou como estou."
É assim que respondo quando me atiçam com banalidades assépticas que não têm em consideração a minha personalidade, a minha sede, a mágoa dos dias que correm de maneira determinada para aquela agonia dos últimos anos, para o desejo doentio de voltar atrás e recomeçar, aproveitar tudo de forma consciente e amoral, usufruir, usar o mundo, as pessoas, os animais, até ao tutano, até ao esgotamento das suas propriedades, categorias, ilusões, fraquezas e comichões. Vejo-me paquidérmico e frio, a olhar para o nada, calado, conformado, a sofrer infinitas dores que não conseguem ombrear com a lancinante agonia de ter sido quem fui e ter apenas vivido a vida que vivi. Miríades de palavras esdrúxulas que eu infelizmente consigo discernir, fazem-me sentir um verme; sempre que respondo, apetece-me perder para sempre numa gruta escura e húmida, sem um raio de sol que seja, sem um corpo bronzeado, brisas ou marésias, sempre que deixo de ignorar aqueles amontoados de letras que se projectam para mim, para o meu córtex occipital, uma dor horrenda trespassa-me algo para lá do corpóreo, chego a desejar morrer.
"És bom demais para esta merda e a solidão é uma fraqueza que tens de ultrapassar".
Uma pessoa vende-se pela promessa de uma interacção completamente incipiente, prostitui-se por um calor tépido, por um odor sexual, por uns minutos de fricção vazia entre escarras de auto-estimas extraviadas. Vende-se, desliga a cabeça do corpo, mete um pedaço de plástico e... deixa de ser quem é, deixa de dizer somente o que pensa, de fazer apenas o que lhe apetece, de troçar, de agredir, de ofender, de destruir, de amarrrrrrrrrrrrrrrr. Vendemo-nos porque nos tornam fracos, tornam-nos débeis com a sua normalidade. "Nunca sairia contigo porque... sei lá, não és normal; por exemplo, em vez de me perguntares de onde sou, perguntaste se sou do Norte ou do Sul".
Talvez devesse sorrir mais, empatizar com facilidade, tomar banho todos os dias, ouvir Rita Redshoes e Ornatos Violeta, talvez devesse emborcar medicamentos, educar os neurotransmissores, pagar por terapia e ostentar posses materiais, para além de dormir 8 horas e tomar 3 refeições por dia. Devia sair e confraternizar, ter conversar banais e agradáveis, deixar as coisas fluirem lentamente, sem interpor um qualquer comentário obsceno ou intrusivo;, contemplar sem olhar fixamente, apaixonar-me em silêncio, matar toda a minha sinceridade que nada tem a ver com verdade, mas apenas com fidelidade para comigo, talvez devesse liquidar a minha afoiteza, a astúcia, o meu lóbulo frontal, transformar-me numa máquina que aprende apenas através de imitação. Talvez não devesse ter lido a morte de Ivan Ilitch, talvez devesse ter lido muitos e importantes livros, mas não ter percebido nenhum e ter saltado imensas páginas. Talvez devesse ter estilo e fazer um enxerto capilar.
"Descobre o que realmente desejas e vai à procura, irás encontrar"
Ai ai ai... Que raio de frase, que na verdade significa: encontra alguma coisa que te faça sentir menos mal, adapta-te a ela e desiste de tudo o resto; pára de sonhar, pára com os pensamentos perniciosos, fica com aquilo que não tens de pagar, é gratuito e carícias dessas não têm preço, carinhos daqueles não se vendem em qualquer esquina. É gorda, feia e tem halitose, mas é-te fiel e gosta de ti, permite-te completar o ciclo de vida. Um dia, mais tarde, movida por ciúmes doentios, desfigura-te a cara com ácido, mas não importa, pois nessa altura já estarás mais morto que aqueles tipos que morrem durante actos heróicos ou auto-asfixia erótica.
Escrever para quê? Não haverá relva ou clareira partilhada, caminho percorrido rumo ao moinho abandonado, não haverá parelha que entenda, que aprecie em silêncio, que saiba sem palavras, gestos ou outro tipo de indicações. Flutuar na enseada. Adormeci e perdi-me, atrasei-me da maneira mais fatal de todas, agora, é como jogar um jogo muito longo de onde, por puro orgulho, não se pode desistir, mesmo sabendo a inevitabilidade de ficar em último lugar. Resta-me esperar.
E não sabendo bem porquê, sinto um certo desconforto por ter escrito isto e arrependo-me ainda antes de carregar no botão.
Tenho calor, depois frio, os ouvidos por vezes parecem fechar, os olhos embaciar e aqui dentro trabalha-se para o meu bem, pela minha saúde, todos sabem o que fazer e fazem-no bem, muito obrigado, estou-vos grato.

segunda-feira, outubro 5

Jovem Mãe Divorciada

Uma noite dormida na praia, recordas-te? Sempre tão frio ele era, distante e com prioridades que lembravam apenas ao raio do mafarrico. Às vezes davas por ti a chorar, mas sabias bem o que querias, não tinhas dúvidas e a tua obsessão fazia com que lutasses, combatesses com as tuas armas nada convencionais os desígnios que te haviam sido entregues - não irias perder outro, desta vez, por mais que te doesse, farias sexo anal. Agora, estás anafiláctica e tens um filho com o córtex pré-frontal completamente fodido, não pára quieto, não se consegue inibir, as suas sinapses são imensas e não fazem qualquer sentido, ele vê-te a chorar mas não se importa, porque nada sente por ti. Ninguém te quer para lá da carne, vales apenas pela adiposidade, pelo esqueleto, pelos apêndices mamários, não vale nada a tua alma, a tua mente, o teu olhar ternurento e cheio de uma súplica que excita o psicopata ou o pessoal da agro-pecuária. Ninguém te quer, pois tens um filho, ninguém quer ser pai dos filhos dos outros, ninguém quer aturar esse pedaço de excremento humano a que chamas filho, cheio de genes impuros advindos do lado paterno. Um destino merdoso, o teu, 25 anos e sem expectativas; querias sair e abanar a firmeza que te resta num sítio qualquer, a ver se chamas a atenção e te iludes a ti própria durante as horas em que eles não sabem quem tu és nem de onde vens, mas não podes sair, não podes deixar esse homúnculo sem guarda permanente, esse pirómano sem vigilância depuradora. A tua mãe não toma conta dele, chora-se e diz que está velha, que não consegue e dentro da sua cínica docilidade, faz-te sentir tão culpada por teres sido deixada, abandonada por aquele que agora comprou um carro novo e na tua óptica se diverte à grande. Tentas ter um pouco de carinho, agarras o miúdo e falas-lhe carinhosamente como quando fazias ainda ele estava no teu ventre, prolongas muito as vogais, como se faz com os bebés e com os animais de estimação, afagas-lhe o cabelo e notas-lhe as trombas iguais às do pai; ele quer libertar-se de ti, mas tu agarra-lo com mais força, ele debate-se, degladia-se para se afastar do teu torso que ali paira tão perto, exasperas e bates-lhe, ele bate-te de volta e sai da sala, tu ali ficas, só, a chorar, desejando que acabe o feriado e que chegue a terça-feira, para o deixares na escola onde ele mata animais e não se adapta e ires trabalhar num sítio que detestas, a atender telefones e a desejar secretamente um despedimento que tanto temes.

Morfeia

Às vezes sinto que a minha vida já era... Mas isso agora não interessa para nada. Fiz de irmão mais velho que por acaso até sou e isso fez-me sentir bem. Foi agradável. Foi como se fosse um leproso encarcerado num pardieiro, escutado apenas pelos conselhos a que se dedicou depois de ter abdicado da própria existência.

segunda-feira, setembro 28

Podolatria a p&b

sexta-feira, setembro 25

Cantina velha, 24 SET 09, 19:30.

As gajas da tuna (chamo-as de gajas porque dado o seu comportamento, presumo que seja assim que gostem de ser chamadas) cirandam por aqui de forma pateta com os seus instrumentos e trajes onde despontam impreterivelmente as malhas nas meias; dá-me a ideia que elas não sabem tocar os instrumentos, ou sabem mas assim uma coisa muito pedante, ao estilo de um bate-chapas zarolho a querer ser mecânico. Elas teatralizam tudo, desde as interacções com as pessoas que conhecem e que são as suas amigas, até aos comportamentos que em voz alta têm para os outros verem e ouvirem. É assim uma espécie de revista onde a brejeirice que no resto do ano apenas veicula momentos de depressivo onanismo, se solta e polui mais o ambiente que as chaminés da siderurgia nacional. Mesmo entre elas, não falam, guincham! e o guinchar está cheio de fonemas com trago a bagaço, dá a ideia delas gostarem de foder por terem voz de bagaço, (heurística?) ou como diz uma muito respeitosa pessoa, dá a ideia de podermos levar a garrafa de whisky para a cama, o que é muito apelativo se gostarmos de beber. E quando pensamos que já nos habituámos e elas próprias amainam com a comida a entrar na cavidade bocal com dentes desarranjados, chega a tipa gorda, a que investe mais e grita: «vou por azeite e vinagre nesta merda... e alho, hahahaha». Depois volta e trata mesmo mal a caloira da tuna, ordena-lhe um par de coisas sem sentido e desconfio que lhe olha para o contorno do torso e passa-me pela cabeça que as gajas gordas e feias são todas sapatonas. Eu penso em dizer-lhes qualquer coisa, mas não chego a fazê-lo, mas chego àquele ponto em que a expectativa de fazer é tanta, em que engano o meu corpo e ele, ingénuo, segrega adrenalina por pensar que vou agir, coitado... Excita-me para nada, enrijece-me para nada, depois, lentamente, volta à realidade e esmorece à medida que as gajas da tuna se vão rindo sem prazer e continuando a sua revista de maledicência e frivolidade

domingo, setembro 20

Mamas Grandes

Há tantas coisas que me deixam irritado que começo a pensar se não sofrerei dos nervos. Mamas grandes. Eis a minha mais recente irritação, mamas grandes... Prateleiras imensas que atraem olhares com a facilidade com que qualquer coisa que se ligue à electricidade ou tenha uma bateria atrai pretos da Amadora ou de um subúrbio equivalente. As mamas grandes, como é sabido, estão num pedestal e num recanto estranho do nosso inconsciente, evocam a caça à baleia. Ensinam-nos desde cedo a adorar as mamas grandes, a curvar-nos perante o decote onde uma migalha se pode perder para sempre e um pequeno feijão dar origem a um grande e viçoso feijoeiro; não é matéria constante nos programas escolares, mas em todas as escolas há uma mamalhuda com um propósito claramente definido (entesar-nos e impedir-nos o pensamento, impedir que vejamos que seremoss os futuros escravos de alguém?); não, não é apenas a sociedade e os pasquins orais que acompanham o nosso desinteressante definhar que nos educam rumo à adoração do torso; as mamas grandes são praticamente um arquétipo, dispensam aprendizagem, a sua veneração explode em nós de forma inopinada como se fosse um vesúvio idiossincrático. Chega o dia em que me deparo com umas mamas realmente grandes e o entusiasmo aflora em todo o meu ser, percorre-me os nervos numa orgia sináptica, a mielina entra em ebulição e toda a expectativa é uma erecção permanente numa euforia que constantemente evoca o momento do consentimento. A excitação é tremenda e a visão do soutien gigantesco com as rendas todas esticadas que deformam as florzinhas que crianças do Bangladesh bordaram, a libertar aquelas imensuráveis bolas adiposas com mamilos assimétricos, deixando-as descair vários centímetros em direcção ao umbigo nuns segundos que parecem uma eternidade divina, humedece de imediato a glande que facilmente se desembaraça do prepúcio inexistente. «Ah, finalmente vou poder manusear e abocanhar umas tetas poderosas». Anos e anos a pensar naquilo, anos e anos de conversas sobre o abanar, o bambolear, espanholadas e então, vamos lá à acção. Lá estou eu, a abocanhar, a manusear de forma pouco ajeitada, sinto-me tão obrigado a ter prazer, a aproveitar algo que me fora indicado como único: mexo depressa, abano, aperto, depois faço tudo devagar, como que em câmara lenta; levo lá a boca, o nabo, o escroto, a maçã de adão. não acontece o que seria suposto... Acabo, sem saber porquê, a fazer movimentos típicos da ordenha ao mesmo tempo que o entusiasmo se esvaece. É demais, é desconcertante, não me cabe na mão, nem nas duas mãos, sinto-me débil, sinto-me atrapalhado com toda aquela massa por ali que quase tem uma força gravitacional própria, faltará pouco para pequenos objectos orbitarem em torno daquilo. Mas tenho de ter prazer, tenho de aproveitar, SÃO MAMAS GRANDES PÁ! Acabo irritado com a minha desconexão, a querer ir dali para fora, porque a tipa, para lá das mamas que me levaram a estar com ela naquele momento, nada mais tem para me oferecer além de uma mediocridade a roçar o decrépito. Como não sei o que fazer àquelas bossas, tento olhar-lhe para a cara, mas não gosto do que vejo, tem uns olhos baços e uma fronte coberta por cabelos espigados cheios de madeixas idiotas e multicoloridas; procuro-lhe o resto do corpo, viro-a de costas porque não suporto a frente e então, deparo-me com tatuagens horríveis, que ela fez para tentar suportar-se a si mesma, à sua fealdade, à sua virtude que lhe causa problemas nas costas. Que se fodam as vossas mamas grandes, leiam o caralho de um livro para conseguirem fazer conversa quando a desilusão nos impedir de o levantar.

terça-feira, setembro 15

Tenho saudades vossas.

segunda-feira, setembro 14

Desabafo III

Aquilo que conceptualizamos como tempo, é apenas uma definição que um filho de uma puta badalhoca inventou para categorizar a mudança... E já agora a distância é fodida...

domingo, setembro 13

algumas cenas de verão

sábado, setembro 12

EISHHHHHHHHH

E lá está ele, o príncipe da madrugada, o entradote dos movimentos felinos na discoteca, já há 25 anos que assim é, sempre sem sucesso, sempre sem nada que lhe dê esperanças, mas, não precisa de tal coisa, não precisa de sucesso, não precisa de toque para além do roçado, não pede mais que resvalar o seu pénis em nádegas de 3 gerações diferentes, há 25 anos a roçar em nádegas, mães e filhas já ele reconhece como tendo andado bem perto da ponta do seu avantajado bacamarte.
Os amigos mudam, quando ele tinha 20 anos, os amigos tinham 20 anos, quando tinha 30, os amigos tinham 20, agora tem 45 e os amigos continuam com 20. Fuma um cigarro encostado à sua carrinha que está estacionada no parque de estacionamento de um hipermercado e conta uma história ou outra a um dos miúdos que trabalha com ele e com quem vai rumar à discoteca, dançar as novas tendências; passou do rock, para o disco, para o techno, para a kisomba e kuduro, para o funaná, para o reggaeton, foda-se, tanto lhe dá, porque ele é uma máquina, um aspersor de olhares néscios e rebarbados. A brilhantina acabou e levou consigo a maioria dos cabelos, os que continuam, agora são rapados já depois de terem passado pela fase do gel. Quando ninguém está à espera, saca uma pistola do porta-luvas e mais uma vez, uma vez mais, um bando de jovens impressionados, um respeito conquistado e o apontar da arma a uma velhota que ali passa, para gargalhada geral; a velha assustada vai-se embora e ele, sedento de gargalhadas ainda diz «comia-te esse cu todo, és tão boa maezinha», resulta e o facto de um dos tipos já ter assistido a uma cena igual num fim de semana anterior, não o importa minimamente.
Na discoteca, seja lá qual for a música, ele, sem saber, é um gajo dos blues, nunca ouviu Canned Heat nem a sua "on the road again", mas é esse o ritmo que o impulsiona, de braços abertos, a morder o lábio inferior e de olhos semicerrados, a cintura endiabrada, agita-se com um impressionante fulgor e pretende roçar-se em glúteos mais convincentes, em ancas mais cativantes, em epidermes incautas que por ali andam descobertas, à sua mercê; inocentes? nunca, se ali estão, querem foder. Circula uma joint e tu fumas, porque até fumarias merda de cavalo se fosse preciso, tanto te dá. Nem sabes bem o que é a droga e o que faz, mas já experimentaste tudo sem ficares agarrado a nada, tens uma t-shirt que diz "eu digo não às drogas. Mas elas não me ouvem..." mas não dizes não a nada, sabes lá tu dizer não... ah., esquecia-me das prostitutas, dizias não aos preços que consideravas exagerados e sabias bem regatear e elas, elas eram novas, ano após ano, mudavam, algumas ficavam, mas nunca tanto tempo quanto tu, seu velhaco.
Passado mais um fim de semana, mais umas noites em que nunca voltas com as pessoas que vais, vens sozinho, dás boleia a pretos, brancos, ciganos, a bebedeira desinibe-te a pistola aquece-te os arrepios, despistas-te, chegas a casa com o carro batido e não te lembras de nada, tanto te atazanam o juízo... No trabalho nunca te perguntas porque raio nunca és promovido, em casa, com a velhota que esperas que morra, irritas-te e estás por lá o menos que podes, principalmente quando a tua irmã aparece de visita, isso é insuportável e tens receio de te virares ao teu cunhado que te trata como um miúdo de recados. «45 anos e um tesão do caralho»
Cortas um chouriço cozido na sopa de feijão, sentado nas escadas da entrada da casa geminada onde vives, o rafeiro velhote chega-se ao pé de ti e dás-lhe uma rodela, depois outra, o cão quer mais e chega o focinho ao chouriço e tu dás-lhe um biqueiro que o faz ganir durante um minuto, depois volta-se a chegar a ti. Levantas-te e vais para o café, não suportas mais aquilo, o ar de luto da velha, os seus lamentos infinitos que te fazem sentir um assassino, um condenado «João, tu dás cabo de mim, vais matar-me João, essa tua vida deixa-me tão triste». O dono do café é paneleiro e tu comes-lhe a mulher que parece um pau de virar tripas toxicodependente, com mamas grandes. Os carros passam e apitam-te, tu da esplanada a emborcar imperiais acenas e manda-los po caralho, para riso de quem te acompanha, riem-se sempre, não é seu brejeiro?
Adoeces e cais no Hospital, sentes-te mesmo mal e notas que até os peidos te custam e doem, nenhum amigo te visita, aparece por lá a tua mãe e a tua irmã, que se mostram enfastiadas e mal chegam, ainda antes de carpirem qualquer coisa e mencionarem santos para tua exasperação, avisam logo que não podem ficar muito tempo, pois têm de ir às finanças, ao banco, aos correios, ter com o sr ou a sra qualquer coisa. Sentes-te mesmo sozinho mas o teu pénis ainda se levanta, inspirado pelas enfermeiras que levemente cirandam por ali com as suas batas que a tua mente nublada torna mais curtas ... A tua sobrinha aparece, garota de uns 2o anos, com uma prateleira descomunal e um rabo que se parece mais com o 25 de Abril do que o próprio 25 de Abril. Vem com o seu namorado, tão negro que tu encandeado com a luz que vem da janela, só lhe consegues detectar os dentes e mais um detalhe ou outro. Pensas que agora é o tempo deles, dos pretos, que no teu tempo é que era, é que eras... Foda-se, o teu tempo foi todos os dias, o teu tempo nunca passou, reinaste, foste o príncipe regente da Quinta do Conde durante 25 anos, foste príncipe ainda nem haviam esgotos, mantiveste-te príncipe depois da internet ter chegado e induzido homossexualidades que sempre te pareceram vantajosas «ficam mais aqui para o Zé».
Espera agora pela morte, pela morte que se anuncia através dos canais venéreos, pela morte que não te envergonha apesar de envergonhar a tua família. Esperas pela morte e dás um berro à tua irmã e aos seus suspiros, discutem e ela diz que lá não volta, era o que ela queria, um motivo. Morres e já ninguém te visitava há duas semanas, nem a tua adorada sobrinha, que tu calculas que o preto nem deixa sair de casa, fode-a sem parar, fode-lhe a cona, o cu, o umbigo a boca, as orelhas. Mas isso serias tu, meu príncipe, isso serias tu se alguma vez tivesses tido uma mulher tua, uma mulher que fosse tua de sua livre e espontânea vontade, nunca tiveste e morres assim, só, no teu reinado, morres sem deixar herdeiro, já não existem como tu.
...morreste, sim, mas só depois de pedinchar uma última punheta à enfermeira, que ta recusou sem te dar margem para insistires noutro dia. Recusou-te e fode com um tipo qualquer que nem sente 5% do tesão, que tu já meio cego e no leito de morte, sentiste por ela.

Paradoxo

As empregadas de limpeza têm uma tendência para a javardice demasiado evidente para ser ignorada.

quarta-feira, setembro 9

Maniqueísmo

Quem, durante a infância e adolescência leu os livros da colecção "Uma Aventura" da Ana Maria Magalhães e da Isabel Alçada, com ilustrações de Arlindo Fagundes, tornou-se culto e inteligente, com bom-senso e sensibilidade social, quem não leu, tornou-se num dos muitos néscios que agora ouvem música de merda e esbanjam libido e odor a cavalo de discoteca em discoteca.
Esta dicotomia só se aplica a pessoal da margem sul do Tejo da zona metropolitana de Lisboa.

sexta-feira, setembro 4

adenda

é como as tascas. Houve uma geração que se quis desvincular delas, afastar-se, porque eram lugares sujos, mal frequentados, agora, estão outra vez na moda. Aliás, é engraçado ver a betaria a entrar na tasca e a começar a falar com o dono, um velho nojento, como se o conhecesse, para impressionar os amigos. Antigamente ninguém queria conhecer tais pessoas. É como as vindimas. Mas ainda bem que as coisas mudam e que agora é fixe outras coisas que não o vestir-se bem e ter um bom carro etc etc.

Vindimas

Antes: Rapazes fortes e com uma halitose que não saia só da cavidade bocal, de nome Quim, Chico, Zé, Augusto, que haviam chumbado no exame da quarta classe, lá iam, em Setembro, numa pequena migração a pé, para vindimar. Precisavam do dinheiro para ajudar a família que tinha dificuldades financeiras e o trabalho duro da apanha, segundo os familiares mais sabidos, enrijava-lhes o corpo e o espírito. Eles não gostavam muito de ir, pois o trabalho era de sol a sol e muito duro, comia-se mal e cagava-se num buraco cheio de varejeiras a resplandecer sob o sol abrasador das três da tarde. Agora: Jovens de nomes como Violeta, Diogo, Tiago e Beatriz, oriundos de famílias urbanas, depois de acabarem um mestrado integrado e terem recusado um trabalho administrativo que consideram desprestigiante, vão para as vindimas para arranjarem dinheiro para o avante e conhecer gajos ou gajas indies que depois vão largar passados uns meses porque durante a mínima dificuldade sentem más vibrações ou um clima pesado. Agora vão de 206 ou C2 e ainda dão um saltinho na praia quando acaba a labuta. E pronto, o Mundo está sempre a girar...

domingo, agosto 16

S.

Nada vai mudar. De Agosto a Fevereiro será como foi de Fevereiro a Agosto. Distância. Mas distância sem insípidas simulações de aproximação.
Mas as ruas estreitas e as calçadas espirituosas que percorrerei não mais serão as mesmas, sabendo eu de antemão que por ali não andarás, que por ali não deambularás com esse teu ar de pessoa com brilho e que encanta sem pretensão. Agora terei a certeza, quando sair num dia em que ameaça chover, que não te encontrarei distraída a dobrar uma esquina dentro do teu casaco preferido, no metro a olhar um indigente pelo vidro, a afagar um cão pulguento que por estar esfomeado se dá a muitos afectos, nem tampouco te verei a levar a bicicleta pela mão por não teres aguentado a subida.
Oiço a música que não é tua mas que me deste a conhecer e vejo já as folhas a caírem dos carvalhos, das bétulas e dos pinheiros, aí nessas ruas geladas que percorres com um sincero sorriso nos lábios e pensas no que te custará vir embora, no que te custará voltar a isto, a esta pangeia humanóide que tão pouco te dá e tão pouco se vangloria com os teus passinhos ligeiros por cima dela. Vai-te custar a regressar àquelas conversas velhotas com um entendimento mútuo que nos aproxima ao mesmo tempo que nos afasta.
Vou escrever-te e contar-te, por meias palavras e com sentimentos contidos, tudo o que é trivialidade nesta cidade, talvez ponha um bocado de luz nas epístolas, antropomorfizações, mas nada de referir a falta que me fazes, pois nunca te tive, nada de referir o quanto te gosto, pois não te quero incomodar, não quero ser o teu Lévin...
S. Irei à cinemateca e em todas as telas ver-te-ei; ficarei sentado sozinho lá atrás, como de costume e não olharei para a porta cá de cima por onde entram as pessoas que vêm atrasadas e não tentarei discerni-las no escuro, porque agora, saberei que não és tu, saberei que estás nas tais ruas, cheias de folhas secas ou cobertas pelos primeiros nevões do ano, ligeira, marcarás teus pés nos corpúsculos frios e alados que tingem tudo de branco, tudo de branco, e os meus olhos, já não serão tingidos pelo vermelho das tuas letras empáticas e compreensivas, pelo teu carinho que não partilha desgraças nem dores.
Fico mesmo feliz por ti, pelo teu olhar que ganhará um novo fôlego, pelo teu bom-senso que continuará a levar-te pelos bons caminhos, para longe de mim...

sexta-feira, agosto 14

Joana

Ao longo da minha vida tenho conhecido algumas pessoas: boas, más, feias, bonitas, simpáticas, antipáticas, enfim, todos os adjectivos de que se consigam lembrar e seus respectivos antónimos. Para além disso, ainda conheci outra pessoa, a Joana. A Joana é uma pessoa muito irritante e durante muito tempo não consegui bem perceber porquê; talvez por até nem antipatizar com ela, nunca me dei ao trabalho de perceber que raio a tornava tão irritante, hoje, acho que entendi a razão e não, não é da voz garrafonal. A Joana é uma pessoa que é incapaz de dar feedback sobre o que quer que seja. Por exemplo, nós dizemos que conhecemos um drogado que teve 4 overdoses e agora anda por lá a deambular à porta de nossa casa, a Joana imediatamente diz que tem um primo que já teve 6 overdoses, que batia na mulher, violava criancinhas e contrafazia vinho tinto enquanto urinava e defecava em simultâneo. Outro exemplo: nós dizemos que ao chegar ali tivemos um susto de morte porque um carro nos ia atropelando, imediatamente a Joana responde que uma vez tinha sido ameaçada de morte por 3 pastores alemães cheios de pulgas ao mesmo tempo que era perseguida por um eléctrico numa rua a inclinada e sem ombreiras de portas.
- Este melão é mesmo bom - diz um qualquer ser incauto sem ponta de pretensiosismo.
- Eu já coumi melão tão buom, nada a ber com essas bossas merdas mouras, melão com pêlo, que ladrava, sim, melão que ladrava, um até me mordeu no braço fuoudasse, filha da puta. - diz Joana enquanto mostra uma picada de melga no seu braço alvo e dos seus olhos fundos que coriscam sai um ligeiro desprezo que reverbera insegurança e necessidade de mais um cigarro embora o anterior ainda queime lentamente entre os dedos da sua delicada mão.

segunda-feira, agosto 10

Masturbação Falhada

Primeiro que tudo, tenho de anunciar que deixei de ver pornografia. Apaguei o que tinha no disco e retirei aqueles 15 links dos favoritos. Sei que talvez perca alguns amigos por causa desta decisão e que de certeza me vão acusar de ser um herege.
Deixei de ver pornografia porque acho que poderá ser terapêutico; andava a ficar muito perverso e fetichista, então achei por bem fazer uma espécie de reset mental e regressar àquela pureza criminosa e cheia de esmegma que caracteriza a adolescência, em que ia atrás duma mulher com uns glúteos briosos e arrancava os meus próprios cabelos para conseguir evitar violá-la na via pública. Ver se diminuo também a frequência do onanismo, para jorrar que nem um cavalo e ficar com o epitélio peniano a pulsar durante uns cinco minutos depois de me vir.
O vicariante encontrado para a pornografia, foi, com grande naturalidade, o hi5 - seria interessante saber por quantas masturbações é o hi5 responsável. Com o claro intuito de bater uma punheta, visitei o perfil de uma antiga colega da faculdade, a Caty; uma tipa por quem eu a dada altura desenvolvi um fetiche, porque queria comer uma gorda e a gaja era um gordinha jeitosa; acho que nunca cheguei a falar com ela, tinha três telemóveis e ar de parva, mas não era um ar idiot-savant, era mesmo aquele ar parvinho, hermetizado pela burrice e total ausência de espiritualidade. Agora está magra e... foda-se, que fotografias irritantes, tanta felicidade espelhada em poses idiotas em que invariavelmente aparece coberta, pois as estrias e a celulite devem embaraçá-la.
Mas o que realmente me incomodou, foi a apologia da saudade, a nostalgia dos anos passados na faculdade. Mas que raio? Uma personagem secundária que nunca abriu a boca numa aula, que era um satélite daquela gaja arrogante e irritante de Barcelos com ar de quem tinha o vibrador avariado e o namorado se andava a vir cedo demais. Ela simplesmente ficava por ali, mais duas ou três azémolas, sentadas numa mesa a falar de iogurtes, dos namorados néscios e das férias em locais paradisíacos que por vezes eram estragadas por pêlos encravados nas virilhas. Ainda assim, agora, aparece por lá (nas fotos) com o seu namorado, mas nunca o nomeia, nunca refere uma ligação que é óbvia, não sei se é dele lhe ter pegado chatos ou de ter cara de parvo, a realidade é que ela parece, apesar da fraca idiossincrasia que lhe conheço, manter as possibilidades em aberto, quem diria... é apenas mais uma de nós.
Mais um dia de abstinência.

domingo, agosto 9

terça-feira, julho 21

Obsessão

Tindersticks - Jism

On a sunday afternoon

- “What the fuck is wrong with you? Snap out of it!!!

The concert was simple but cool, the temperature was mild, the river didn't smell and the company was good. I guess there was something missing there, like another zombie - a blonde one, beautifull and vivid eyes, "petite" but tough, craving for a Red Bull or drinking some wine or a "mini" and - that's why - smoking a marlboro light or silver slowly, enjoying each drag like the last one, now that the guilt for smoking has gone with the alcohol, always non-dependent and thinking by default efficiency-first...maybe she would be a little bit impatient towards the end, i'm not sure but i'll bet on that...

I would hug her in the small colored, unconfortable and wheeled islands that smell like the countryside, knowing that the tighter the grip, the easy it breaks, but i think she wouldn't misunderstood me. I would "take care of her ass and legs", understanding the real meaning of it, and knowing that i wouldn't like to do anything else, than just cudlle her soft and gentle skin... And then the distorted perception of time as it would stop for me for a little while - no musicians, not always the maintheme-saximprov-pianoimprov-bassimprov-maintheme-end song structure of jazz standards, no people coming out of the boat station looking , suprisingly, tired at the sunset and on a hurry on a sunday afternoon, no seagulls picking on a piece of something floating in the water, no boats bridging everyday lifes between home and work, work and home, no stupid tourists with guides in their hands, striking the pose to every scenario they find, no cars honking on our back to a drunken old man that kneels on the zebra praying and crying, no anger, stimuli, observing, parallel thinking and processing all the time... just silence and her for a little while - and then time could shift and accelerate to lightspeed, like the last time i was with her and we both were zombies...

- “Oh, Thank you for asking. i'm not depressed or anything, it’s just the city...ok, maybe, i've got a little bit of city sickness, but i guess it's normal on a Sunday afternoon.”

quarta-feira, julho 15

Cabo Espichel

The future lay sparkling ahead and we thought we would know each other forever.

terça-feira, julho 7

Queimada.

a kaya disse uma coisa que me ficou nos ouvidos: "que se fodam os médicos: wikipédia e google e mais nada" e eu vejo-me obrigado a concordar. Depois vejo também este vento a jogar com as cortinas da sala e a voz da minha mãe que estava mais forte dizendo que até tinha vontade de comer. e sinto.me com mais força para encarar o medo. e não sei quem é que comentou que vinha a este blogue e que era sempre o mesmo discurso, repetido vezes sem conta. Quem tal escreveu é um ignorante, uma alma simples que não conhece quem aqui escreve, estas seis sete oito pessoas que são muitas mais e que vão tentando encontrar um caminho neste jogo de enganos e incertezas que é a vida. Somos aqueles mecanismos que ao esbarrar numa parede voltam para trás. A melhor fuga é para a frente, ou para os lados, mas é preciso força para voltar atrás. "É duro admitir as nossas limitações" e é mesmo. Perceber que, por muito que queira, não consigo fazer uma determinada coisa, e.g: o cristiano ronaldo sorrir sem um esgar que mostra parvoíce, ou os gajos do cds não serem uns fascistas encobertos. Acho que depois de certa idade é mesmo impossível ser-se feliz. Ou então é preciso abraçar uma nova religião, que é como quem diz uma nova forma de ver as coisas, e talvez aí já entremos no domínio da cientologia. Tudo é aprendizagem, afinal de contas. E hoje é Lua Cheia. ok. E há gente que pensa: se não consegues vencê-los, junta.te a eles. E eu penso assim: se não consegues vencê-los, foge deles. Para o Marão. Ou Alvão, ou para uma dessas potentes serras a Norte, quando a lua está plena, e ilumina aqueles planaltos, e vemos luzes vermelhas na distância a assinalar o poder de geradores eólicos a laborar em plena noite, neste bréu intenso, medonho, cheio de poder, cheio de raiva e calma. e vemos a neblina que cai sobre os vales entre as serranias e deixamos o diafragma da máquina aberto, e revelamos a fotografia, ou vemo-la logo ali, no ecrã digital, com imensas estrelas e as tais luzinhas vermelhas na distância. É uma das imagens de mais poder, esta. Aposto que o sr doutor nunca esteve presente lá. a minha mãe esteve. só mais esta frase: "Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera." 

sexta-feira, junho 26

"People are crazy and times are strange
I'm locked in tight, I'm out of range
I used to care, but things have changed."
Bob Dylan