terça-feira, fevereiro 22

Spam (que outro título?)

Escrevo mais uma vez o meu endereço de e-mail e password. Enter. Nada de novo. Newsletters de sites de emprego duvidosos, muito spam, muito lixo. Ofertas de uma sessão de talassoterapia por 21€. Ainda me questiono se a minha mãe ia gostar.

Base de dados. Actualização. Inserção de dados. Fico feliz por ter acesso ao meu mail, por poder ver, nos momentos mortos, os mails em corrente com o último cartoon sensação, ou com uma piada reciclada sobre um acontecimento recente. Refresh no e-mail. Nada de novo. Refresh. Refresh. “Get V14GR4, 50% OFF”. Spam, spam, spam! Sinto-me por momentos, num sketch dos Monty Python.

Entrevistas de meia em meia hora. Tentar convencer pessoas a aceitarem um projecto caduco. “Vai ser uma óptima porta de entrada. A evolução na carreira é inevitável. É um projecto interessante para si. Vai aprender muito. Vamos contar consigo. A remuneração aumenta de acordo com o seu esforço e os seus resultados.” Secretária de novo. Relatórios de entrevistas com os mesmos veredictos: “Vai dizer alguma coisa amanhã. Neste momento, tem outros projectos mais interessantes. Não é o projecto que pretendia.”

Escolhi (ou fui escolhido) para a profissão errada. Odeio pessoas. E tenho de falar com elas, sorrir para elas. Lidar com a sua estupidez. Com 4ª classe, com doutoramento, são todos estúpidos. O que me faz odiar as pessoas é pensarem que me podem enganar e tomar-me por estúpido. Não sou estúpido. Repugna-me a estupidez. Spam, spam, spam! Informação inútil, que nos é imposta. “Faço parte do 3º Agrupamento de Escoteiros. Fui voluntária num lar de idosos. Fiz uns trabalhos por fora na área do entretenimento.” Muito me contam. Que bom, digo eu. Isso é muito estruturante, digo. É uma óptima experiência, digo eu. Mentira. Não é interessante, não contribui para nada. Têm o tempo ocupado. Óptimo.

Reuniões. Como modificar algo que está caduco à nascença, que outro tipo de estratégias podemos implementar para melhorar os números, não estamos a conseguir atingir os objectivos, o budget não comporta a estrutura do projecto. Spam, spam, spam!

Tenho de conseguir mais pessoas, tenho de conseguir colocar mais pessoas a trabalhar numa função odiosa e mal paga. Números. Números, números, números. Spam, spam, spam!

Os dias começam bem, sem percalços, com as notícias da rádio a acordar. Um sismo do outro lado do mundo, um líder da oposição crítico, a crise financeira a agudizar-se. Nada de novo, tudo na mesma. O ar fresco das manhãs de Outono na face limpa e fresca sabem tão bem como os dentes lavados depois de acordar, a nada de novo. Os transportes públicos que, às primeiras viagens da manhã, já têm um forte odor a ser humano fora de cativeiro. Olheiras, bocejos, alguém a comer uma merenda mista ou um folhado de salsicha por pequeno-almoço. Jornais de distribuição gratuita esquecidos (ou desprezados) nos bancos. Spam, tudo spam. Spam, spam, spam.

O entusiasmo da chegada ao escritório é fulminado pelo “bom dia” azedo de colegas com quem nunca se fala a não ser de números, ou pelo olhar propositado sem palavras que diz “tu não pertences aqui, não mereces estar connosco, não és digno da minha simpatia”. Crostas de snobismo e de inércia racham à tentativa de início de diálogo, mas não quebram. Desisto. Sinto-me com vontade de ficar na varanda dos fumadores o dia todo a ler a “Anna Karénina”. Apesar de obra-prima, tem spam. Páginas e páginas acerca do sistema agrário russo da última metade do século XIX. Não me interessa, apesar de ser um justificativo para o agnosticismo de Lévin, que mais tarde se reconverte ao cristianismo, depois de uma epifania, onde chega à conclusão de que sempre seguiu as máximas cristãs. Refresh no e-mail. Nada de novo. “Hi from an old friend!”, “Enlarge you p3n1s”, “Have your college certificate, from Harvarb University”. Spam, spam, spam!

Se odeio pessoas, a minha profissão é a adequada. Seleccionar pessoas, decidir sobre o seu futuro profissional. Ao odiar todos, vejo-os como iguais, não caindo na tentação de beneficiar alguém por simpatizar mais ou menos com uma ou outra pessoa. Todos são iguais. A mesma corja inane, monocromática e monoplasmática. Estúpidos, todos. Inúteis que nos são impostos. Spam.

quarta-feira, fevereiro 16

KNOW YOUR ENEMY!

sexta-feira, fevereiro 11

O que p´rái vem

Além da moção de censura, o Bloco podia propor uma mocinha de biquini. E o Carnaval que está quase aí à porta...
Latagonas tugas a abanar o courato com collants de lycra para não se notarem as elevações topográficas celulíticas, ao som de um qualquer sambinha polifónico. Como é lindo o carnaval de Loures...