terça-feira, dezembro 7

e, depois, eu, na minha opinião, acho isto muita confuso.

segunda-feira, dezembro 6

Escondo-me o que posso nas roupas que tanto me custam comprar. Sinto-me mal dentro de lojas de roupa, parece que toda a gente olha para mim e sabe que ali não pertenço. Abrigo-me atrás de um ar que pretende não revelar nada. Há quem se aproxime, talvez ano sim, ano não. Nos anos ímpares, há quem me toque, quem me interrogue e queira, apesar das suspeitas de que algo não vai bem, chegar um pouco mais além. Não que eu interesse, mas sirvo para fazer figura. A minha capa… Eu nem sei bem porque ainda me submeto. Talvez a solidão seja mesmo atroz e eu precise de usar palavras, de debitá-las, ouvir-lhes os sons. Talvez a escrita, amiga e dolorosa, não seja suficiente. Então… lá vou, ouvir, ser ouvido, basicamente apenas oiço porque, movido por uma obsessão pela beleza, demoro a conseguir encontrar as palavras que quero utilizar e as pessoas, não esperam, não respiram fundo nem cedem uma oportunidade para eu começar; o silêncio incomoda e parecem ter tanto para dizer, ter tanto desinteresse para esbanjar de maneira abrupta, precipitada...

sexta-feira, dezembro 3

Deixemo-nos andar.

Oiço-te os passos muito ao fundo embora caminhes ao meu lado. Colidimos suavemente um par de vezes durante a marcha, e isso são pequenos arrepios de um conforto animal que infelizmente não chega. O frio é indecente, mas torna-se tolerável quando os pensamentos depressivos me assomam e envolvem como as mãos de uma mãe negligente. As luzes espreitam por entre folhagens de árvores encarquilhadas pelos pensamentos idiotas dos transeuntes. Já nos separámos e agora, feitos parvos, subsistimos que nem hologramas impregnados na carência um do outro. (Como os carros, os hologramas dos carros, recordas-te?)
Vejo-te a ir ali, espreitar aqui e a trocar curtas e insípidas palavras com. Observo, escuto, escondo o queixo por dentro do casaco ao mesmo tempo que subo os ombros e sinto-me a evanescer, a diluir-me na atmosfera pérfida sem centelha de calidez. O fosso aumenta cada vez mais e um par dos nossos encontros pontuais, não chegam para iludir a evidência: rotas distintas denunciadas num enternecedor fixar de olhares durante o jantar; trajectórias que se afastam e afastam... como foi possível que um dia tivéssemos colidido? Como pôde acontecer percorrermos juntos ruas de subúrbios, partilharmos piadas na farmácia ...futilidades, lençóis conspurcados... como pudemos jogar raquetas na praia que ficou a conhecer um pouco mais do que aquilo que devia?
Já não há nada para te mostrar, conheces-me todo embora nada saibas sobre mim. Não sei de truques e manhas,não sei mexer-me por entre gentes nem estabelecer contactos ou vectores de oportunidades oportunistas. Não sei manusear com destreza aparelhos estranhos nem tampouco possuo bom ouvido.
Estás do outro lado e embora te escute e sinta o teu odor com grande verosimilhança, é tão evidente que estas aparições pontuais com que premiamos e castigamos o outro, irão findar, terminar sem deixar rastro, porque a carência não é eterna, porque a miséria está em constante mutação e a dada altura, deixaremos de servir. Pois, pouco há em comum, pouco há que faça sentido, pouco do outro conseguimos tolerar. Tristeza será a química ao invés da castradora melancolia.