domingo, maio 25

Se o Obama ganhar, vamos finalmente, poder odiar um preto sem sermos acusados de racismo.

sexta-feira, maio 23

Ela está no quarto, a arrumar coisas para levar, para partir comigo para algures. Confias em mim… Acorres com pressa à casa de banho, oiço o barulho de um cinto a desapertar, de umas calças a baixar que rojam nas tuas pernas. Escuto a tampa da sanita a poisar na loiça e começo a ouvir a tua urina a misturar-se ruidosamente com a água acumulada no fundo da pia. Sinto uma espécie de calor que me invade o corpo todo, enquanto oiço esse barulho tão acolhedor e, imagino um ligeiro fumo que é provocado pela escaldante urina a ser arrefecida pela atmosfera. Fecho os olhos e estou sexualmente excitado, usufruo até à última gota de urina que petulantemente se faz ouvir. Tudo termina com o som do rolar do rolo de papel higiénico, cortado para fins de higiene feminina. Não lavas as mãos.
- Sim, vou.
Confirmo e ela sorri. Atira-se ao meu tronco, sinto o seu corpo a moldar-se ao meu enquanto a sua cabeça encosta no meu ombro e seus braços se unem em volta do meu pescoço; tenho uma erecção e aperto-a com força na zona da cintura. Sinto-me tão homem. Será que aqueles homens que ficam com uma mulher feia, modesta, deformada e sem aquele brilho típico da formosura, algum dia se sentem homens a sério? Nunca saberão o que é andar na rua com um exemplar digno e gerador da cobiça alheia para lá da avidez do perverso ou fetichista, que pode desejar toda e qualquer fêmea. Desconhecerão o que é percorrer ruas de mão dada com uma rapariga que nos faz sentir mais dignos, seguros e confiantes, faz-nos sentir homens e dá-nos legitimidade para dar conselhos, piscar o olho aos mais novos, ser charmosos, fazer piadas sem parecermos presunçosos ou arrogantes. Protege-nos. Ter uma mulher atraente ao nosso lado é o sucesso mais natural que pode existir, é melhor que ter músculos grandes ou uma aparência cuidada e admirada, é melhor que ter muito sucesso profissional ou escrever um bestseller, melhor que inventar a cura para o cancro, é o passaporte para encararmos os nossos filhos olhos nos olhos e saber que pensámos neles e no seu conforto.

domingo, maio 18

Reticências sem pontos

- Não gosto da Lúcia…

- Ui… Vem aí a conversa de novo…

- Eh pá, não gosto!

- Então mas…

- Não gosto e pronto!

- Mas porquê?

- Não sei…

- Foda-se, diz lá sinceramente de que amigos meus é que gostas? Vá… Diz lá…

- Gosto… Gosto do Gaspar… É muito querido! Aliás ele também é meu amigo… E o Costa também…

- E porquê? Em que é que eles são diferentes da Lúcia? É por ela ser gaja?

- Não… Também não gosto do Manel… Ele é estranho…

- Estranho? Foda-se… A sério… Os meus amigos agora são estranhos… Porquê? Achas que eles andam a beber mijo? E depois se beberem? Eu gosto deles, com mijo ou sem mijo!

- Eu sei, mas não me podes obrigar a gostar deles…

- Essa dou-te de borla… Mas não quero é que andes toda sorrisos com a Lúcia e a tratar o Manel por “querido” se depois é para ter sempre esta conversa quando estamos com eles… Foda-se… Sempre a mesma merda…

- Olha! Tu vê lá!

- Eu vejo lá o quê? És sempre a mesma merda! Não gostas de ninguém que me rodeie! És uma besta territorial e ciumenta! Nem sei como é que ainda te aguento as birras…

- Se não queres aguentar, não aguentes… Não quero ser um empecilho para a tua vida social…

- Ai não? Não é o que parece… Estás sempre a melgar… Blá blá blá… “Não gosto deste, não gosto daquele, não gosto do outro… Pára de olhar para aquela gaja, não faças isto, não gostas de mim…” PORRA! Deixa-me da mão!

- Não… me fales… nesse tom…

- Vai à merda!

- Não! Não vás, ‘mor… Eu amo-te!

- Amas o caralho! Só me dificultas a vida!

- Não! Não vás! Hey! Como é que vou para casa?

- Telefona aos teus amigos… Àqueles que também são meus, mas que tu usas para segurarem esta relação de merda, sabes? Telefona ao Costa, ou ao Gaspar. Eles até têm carro!

- Mas…

- Não te quero ver mais à frente! Adeus! E não me telefones!

- Eu mudo… Eu mudo por ti… Eu amo-te!

- Tu amas é o caralho! Nem de ti gostas!

- Mas…

- Tchau.

...

- Estou? Costa? Anda-me buscar…

- …

- O Miguel acabou comigo… E deixou-me no Guincho, sozinha…

-…

- Estou na merda…

- Está bem, eu espero… Mas vê lá se podes falar com ele…

-…

- Mas ele a ti ouve-te…

-…

- Foi por eu não gostar da Lúcia e do Manel…

-…

sábado, maio 17

Quero continuar vivo para poder quem sabe, um dia, voltar a cometer o sórdido acto que é penetrar na intimidade alheia, abrir-te as pernas, sentir o novo, subjugar-te, beijar-te sofregamente durante um par de minutos e usufruir de ti, estranha.

terça-feira, maio 13

Queres o quê?

Acho que estamos prestes a iniciar uma nova guerra com Angola... Segundo este artigo que li, o "Governo" angolano deve estar a querer levar com umas rajadas de G-3 nos cornos. Onde é que já se viu... Lisboa ser o centro de conspirações contra Angola... Onde é que está o Mantorras? Onde? Num clube de Lisboa! Querem melhor mostra de amizade do que estar a sustentar aquele fóssil de transição vivo? Hã? Querem? Chiça, pá... Anda aqui um gajo, hã?, a trabalhar para que haja cooperação entre os dois países e o caneco, para quê? Para virem, dizer que a liberdade de expressão em Portugal se confunde com libertinagem? Então mas pensam que são o quê? Logo vocês que permitem a caça grossa, mas levaram não sei quantos anos para matar um gorila tão grande como o Savimbi. Deixem-se lá estar, sossegaditos, que nós vamos pondo aí os nossos negócios e coisas assim, para vos ajudarmos a desenvolver e para ficarmos ricos. Francamente... Onde é que já se viu... E ainda por cima insultarem o painel do "Eixo do Mal"! Pffff... Esses quem tem de insultar somos nós! Não são jornalistas angolanos que vêm cá insultar os nossos pedantes! Calma lá!

domingo, maio 11

looking gorgeous

é claro que alguém devia entrar na merda da gala dos globos de oco, er ouro, e matar aquela gente toda. Poupando o Zé Cid. é claro.

FODA-SE PARA ESSAS LINHAS COR-DE-ROSA, VAZIAS E OCAS. DESAPARECE MAIS ESSA TUA MORAL ARRANCADA A FERROS DE UMA REVISTA DE AUTO-AJUDA:

Estamos a entrar num estado de alguma pureza, refinação... suspiro, suspiro, suspiro... Apreciamos o degredo da vida, do pequeno acaso, das grandes e óbvias coisas que têm indigência como nome do meio, apreciamos o degredo pungente do adolescente com o cio que se assassina a cada acto durante as regadas a álcool, noites e madrugadas lisboetas. Apreciamos o degredo dos actos de maldavez, da prostituição das perdidas e disformes massas corpóreas que habitam esquinas fedorentas de onde expulsaram cães e gatos e roedores com lepra. Apreciamos o degredo dos ossos a estalar e do som de uma escarra com muco verde a ser projectada uns cinco metros para fora da boca. Apreciamos o degredo das pessoas que usam calçado ridículo, apreciamos muito, adoramos, usufruimos, absorvemos, vivemos, morremos... Mas já não apreciamos o degredo da mesquinhez pequenina de tipas de classe média alta que metem frases irritantes no MSN escritas a cor-de-rosa e dão demasiados erros ortográficos ao produzirem infertilidade presunçosa. TEMOS PENA CARALHO. Tanta pena como elas de nós têm - perdidos incapazes de um sorriso, perdidos que não sentem para lá da erecção, que não desobedecem a vontades fora do próprio ser, carnívoro e necrófago. Obrigado decadência. Obrigado por esta alma maculada e carcomida por tanto sofrimento que ao entrar no turbilhão aqui de dentro, se torna inócuo e inerte e me conduz para aquela apatia da treta que me leva a proferir insipiências como, não me importo e não quero saber, não sinto nada.

sexta-feira, maio 9

Vazio com zê

Passam carros no crepúsculo, com médios acesos que parecem chamas, centenas de micro fachos que se conjugam para formar uma ofuscante labareda. Apetece-me destruir tudo e quero que prestem atenção ao meu umbigo encoberto por pelos. E por mais que oiçamos o canto agridoce da sereia ou da harpia que existe lá onde trabalhamos, estudamos ou estamos internados, nunca nos podemos esquecer daquela pessoa doce e de sorriso fácil mas discreto, com que sonhamos, com que aprendemos a gostar de qualquer coisa supostamente humana. Uma chance para nos apaixonarmos, uma oportunidade para sairmos e percorrermos o longo mas muito acessível caminho da imaginação, da perturbação que nos infantiliza e torna palhaços que morrerão velhos e sem graça. Pensamos sempre que apareces, mas por uma qualquer razão, acabas por ser uma eterna ausência que nos magoa aqui, na alma. Uma noite sem dormir, ou um despertar daqueles cinco minutos em que nos deixamos ir e fabulamos com um amanhã onde nada mais que amargas picadas iremos sentir. A minha mão toca na tua face e tu sussurras qualquer coisa inaudível ao meu ouvido. Percorremos caminhos conspurcados por milhões de pegadas que já se esvairam pela erosão dos sentidos, calmos, amainados pelo conformismo daquilo que sabemos estar algures, provavelmente dentro do nosso vazio. Estás cá dentro, quieta a um canto, calada, não te manifestas, não me provas que aqui estás, mas... sem ti, o que será de mim?

quinta-feira, maio 8

"não só deus não existe, como tentem lá arranjar um canalizador num domingo à tarde"

1. estava a comer uns chocos antes de ontem e, abrindo um choquinho insuspeito, descubro uma sardinha pequena dentro da barriga do bicho. Fiquei espantado, claro, não comi a sardinha, claro, mas comecei a pensar na ordem das coisas e que a cadeia alimentar é uma cena muita estranha.
2. estava hoje a passar lá para o fim da Rua Augusta e, a certa altura - perto de uma loja de fotografias que pratica uns preços que só são justificados pelo facto dessa mesma loja pertencer a um indiano com o ego em alta- vejo a dona rosa, aquela do triângulo e dos ferrinhos que lançou um álbum e tudo, do meu lado esquerdo, preparada para desferir um riff mortal naquela merda. Depois olho para o meu lado direito e, quase em frente da dona rosa, está o homem cego que bufa naquela espécie de harmónio sem o qual,
 admitamos,
 a rua augusta não seria a mesma. Estavam os dois quase frente a frente. Havia ali uma certa tensão acho eu, mas não era de inimizade... 

terça-feira, maio 6

Mensagem silenciosa...

Zyrtec

Estou sob o efeito de Zyrtec. Não consigo escrever, só espirrar. Mesmo assim, para espirrar necessito de estimular o meu nariz. Estou mal. Nunca mais passa esta temporada. Odeio o pólen. Odeia as flores. Mais um espirro. Queria ser o Michael Jackson por momentos para nao ter nariz e ser pedófilo. Será que sou alérgico a passarinha de menina pequena?

sábado, maio 3

Se fosses minha irmã, matava-me no crepúsculo, no parque, naquele canto onde o odor a urina de gato e a fezes de cão é mais concentrado.

Oiço o novo álbum de Opeth e fantasio com a morte da Vânia Pardal... pois, nada de novo, nada de nada... O dia encobre-se com as cortinas brancas que às vezes estão mais sujas e adquirem uma tonalidade mais pardacenta e, penso em ti, MORTE! Talvez eu deva morrer... Ela está aqui na casa ao lado, semi-nua e a masturbar-se com um vegetal qualquer que por morbilidade da facínora já referida, adquiriu uma complexização do sistema sensorial e sente todas as vilosidades das entranhas da harpia. A sua amiga assiste maravilhada, com seus dentes projectados para o exterior e sua inteligência subdesenvolvida que torna o escatológico muito interessante para a sua amorfa mente. Oiço-lhe os gemidos, que recordam uma chaleira ao lume a piar incessantemente. Posso estar a enlouquecer, perto do meu final, mas sinto o odor vaginal da besta, aquele bafio conservado durante meses de humidade, meses em que a roupa interior não foi mudada, merda, entranha-se aqui no quarto... É preciso um herói, alguém que enfrente a besta, alguém que não fique intimidado com a sua desproporcionalidade, alguém que não tema a oculete... O último que tentou, era musculado e ficou para sempre preso na terrífica masmorra da sua casa, agora, sofre de apneia constante e deseja a morte.

Se eu fosse preto...

Foda-se, invejo os verdadeiros pretos da amadora e de todas as terras de pretos que existem por esta zona metropolitana de Lisboa. Falo em pretos verdadeiros, porque já existem pretos que são amiguinhos dos brancos, que foram domesticados por nós, que se habituaram a comer as nossas porcarias e a subjugar-se a nós como verdadeiros animais de estimação com duvidosos hábitos de higiene, aprenderam a amar a suas chefias. Caralho, se eu fosse preto era um revoltado contra esta sociedade que me havia escravizado os meus antepassados, se eu fosse preto, odiava os brancos e fazia filhos em brancas que depois abandonava e deixava ao sabor do seu anátema. Invejo os pretos que assaltam o pessoal nas noites conspurcadas que se vão pondo todos os dias; que assustam moças de todas as partes e com todos os feitios, moças que têm como fantasia sexual serem por eles violadas. Deve saber tão bem, deve parecer que estão num filme tipo Mad Max, andar por essas ruas foras, apreciar a luminusidade, a aragem ribeirinha e depois, ASSALTAM OS OTÁRIOS TODOS, SEM DÓ NEM PIEDADE. E o companheirismo que deve existir entre eles, para a divisão do saque, as bocas que devem mandar às tipas boas que amiúde acabam por violar. Quem dera entrar num autocarro, catingante e confiante, cabeça erguida e cap e poder começar a roubar aquela merda toda, de uma ponta à outra e bater num tipo qualquer só por ele ser mais bonito que eu. FODA-SE!!!

sexta-feira, maio 2

Acid Jazz

- Tem cuidado…

- Eu sou cuidadoso. Não sabes já?

Ela contorcia-se a cada dedilhação dele.

- As… Hmmm… tuas mãos… aaaahhh… as pontas… parecem borrachas… Aaaahhmmm…

Ele embrenhava-se cada vez mais no improviso. Ouvia nitidamente a música na sua cabeça. O clítoris dela era um amplificador da sua associação livre musical.

- É isto… Ahmmm… o teu acid… tsssss… JAAAAZZZZZ

Cada sussurro dela, cada gemido, compunham uma melodia penetrante. Soava-lhe a um saxofone sofrido, desgastado pelos sopros constantes e persistentes, perpetrados por todo o tipo de homens, ao longo da sua vida.

-Não…

- O que foi?

A preocupação dele foi forçadamente falsa. Não lhe interessava que ela sofresse ou não.

- Nada… Continua…

O improviso intensificava-se. Ele fazia escalas, frenético. Não parava num tempo. Os dedos fluíam pelos lábios lubrificados dela. O clítoris vibrava, como uma corda fustigada numa composição epiléptica.

- … jaaaaaazzzz

- Chhhh… Continua a gemer. Pareces o trompete do Miles Davis.

Ela suava. Ele fuma um cigarro e continua a composição mentalmente.

- Toma, fica com o troco. Hoje tocaste bem.

-Cada vez mais fico mais apaixonada por ti… Não te quero cobrar… Faço-o com prazer…

- Não. Toma. Não gosto de ti, gosto da tua música.

quinta-feira, maio 1

Getting away with murder

O dia adormeceu despercebido entre a azáfama de quem, vencido pelo cansaço, deseja avidamente chegar a casa, e entre as passadas de esperança dos que caminham prosperamente ao encontro do ócio pós-laboral. À medida que a noite avança, as conversas e os olhares galgam ao ritmo da batuta que as cervejas, a pouco e pouco vão impondo para justificar as inconsistências da postura. Da mesma forma, também os movimentos soltos e desenfreados fluem naquelas claras tentativas de acasalamento a que hoje se chama dança, orquestrados pela música muito alta que os mais entusiasmados cantam de cor. Quando a partitura se esgota, tanto o álcool como a música abandonam o ambão, o dia prepara-se para acordar e o álibi primário que a dança ofuscava, desvenda-se agora em total nudez num último encore interpretado fora de tom e marcado pelo compasso monótono que os corpos forçam nas molas do colchão.

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Há que arrumar a casa e levar o lixo à rua. É necessário esconder as provas sob pretextos sociais. “Tinha saudades tuas” diz o olhar “deixa-me adormecer contigo hoje”. Quê?! Queres dormir cá? Agora tentas perpetuar o espectáculo para além do hoje? Nem dá, o verdadeiro actor só o é a tempo certo. Não se mascara a inércia emocional interpretando a tempo inteiro. A única saída para limpar os vestígios a que o vazio agora impõe é permanecer em palco: “É melhor não, tenho trabalho para fazer cedo de manhã, sei que se ficares vou preferir estar contigo durante o dia. Vá não te chateies, acompanho-te ao táxi se quiseres. Manda-me um toque quando chegares a casa para não me preocupar”.