quinta-feira, novembro 20

Chroma Key.

1- estava a entrar no metro da baixa chiado quando ouvi um senhor que anunciava a venda de pilhas, 16 a 1€, para o rádio, mas mais surpreendentemente, para o leitor de mp3. Que voltas deu a vida deste homem (do qual pareço lembrar-me desde que sou puto [se não este, talvez fosse outro, de semelhante tez tisnada, olhos azuis. quem será a mãe deste homem, afinal das contas de maternidades e óbitos], vendendo chapéus-de-chuva, pensos rápidos, a cais, o borda d'água, etc) para que ele tivesse de juntar o éme, o pê e o três e meter-lhe o leitor à frente; tive de sorrir quando passo e ele, vendo-me a olhar ponderando o negócio de 16 pilhas por um euro (caralho, que barato), sai-se com esta de dá para o rádio e para o leitor de mp3. Muita coisa muda com o tempo - o tempo perguntou ao tempo quando tempo o tempo tem, muito, o suficiente para que tu morras, eu morra, e o tempo se acabe e volte a nascer, e afinal o que são 16 milhões de anos, este conceito que eu nem sou capaz de compreender, de meter na cabeça sem ficar zonzo,  uma idade da Terra na qual nem dinossáurios nem homem a habitavam,  toda esta imensidão de planeta dada aos pés e glândulas e mucosas e patas de outros bichos, não sei, deixa-me acabar a refeição em paz, que perguntas parvas.
2- mas, afinal de contas, que merda de cor foi esta para a qual se mudaram as letras deste blogue? que dor nos olhos porra.

Acordo Ortográfico

Será que no Acordo Ortográfico recentemente aprovado seis (6) significa zero (0)? É que se sim, então ganhámos ao Brasil 0-2! Se não, Queiroz, estás um bocado fodido, certo? Pelo menos os clientes das tascas desse país, se fossem o Madaíl, já te tinham mandado às couves. Se calhar, até são capazes de ter influência no Madaíl, o seu velho conhecido companheiro de copos. (O Ricardo e o Scolari devem estar a rebolar a rir… Se fosse eu, estava. Mas eu sou traquinas…)

sábado, novembro 15

Humanete II

Ao fazer uma pesquisa na internet, mais especificamente através de um popular motor de busca (que já se tornou verbo), da palavra “inovação,” foram encontrados 6.830.000 resultados. Fazendo a mesma busca com a expressão em inglês, “innovation,” foram encontrados 123.000.000 de resultados, cerca de 18 vezes maior que a anterior. Não sendo muito relevante para o assunto desta tese, é significativo o peso que a inovação tem nos dias que correm.

A febre de inovação não pára de subir: Magalhães, Projecto e-Escolas, formação de equipas de trabalho nas organizações, etc. Tudo serve de pretexto e de contributo para a inovação. O facto de a inovação introduzir algum grau de mudança (p.e. mudança de estratégia ou adição de um novo público-alvo) (Dougherty, 1999) favorece, por exemplo, até os candidatos presidências dos Estados Unidos da América, envergando o chavão da mudança e da inovação. Favorece também, num outro exemplo, a imagem de Portugal no panorama internacional. Quem não se lembra da oferta generosa que o Primeiro-ministro português José Sócrates fez, na Cimeira Ibero-Americana de 2008, em que “ofereceu computadores Magalhães aos Chefes de Estado e de Governo dos 22 países que participaram na XVIIII Cimeira Ibero-Americana, na capital de El Salvador” e que “a distribuição dos computadores Magalhães antecipou o anúncio de que o Governo português escolheu a Inovação e as Novas Tecnologias como temas da Cimeira Ibero-Americana de 2009, que será organizada por Portugal” tendo um resultado benéfico em termos de vendas, pois “depois da Venezuela ter assinado um contrato para a aquisição de um milhão de computadores, Portugal procura agora entrar nos mercados do Brasil, Chile e Argentina, países que já mostraram interesse no Magalhães. “ (http://ww1.rtp.pt/noticias/?article=370336&visual=26&tema=2) Apesar de não almejar ser um texto jornalístico, este excerto demonstra como a inovação serve para variados propósitos, como neste serve de estandarte de desenvolvimento e investimento por parte de um Estado.

A palavra entrou na linguagem do dia-a-dia, sendo aplicada correctamente em alguns contextos, mas noutros é utilizada abusivamente. Exemplo disso é o facto de surgir, como acontece em algumas organizações, como uma espécie de Santo Graal que resolverá todas os problemas inerentes com o clima de incerteza que se vive. Não há problema em prometer “inovação”. A questão reside na vacuidade da promessa, ou seja, o Graal costuma estar vazio.

Outra questão inerente à utilização da expressão “inovação” é a limitação do conceito. Quando se escolheram os temas para a Dissertação de Mestrado Integrado, colegas da mesma secção e de outras secções e “credos psicológicos”, na sua curiosidade natural (e também com intenções de benchmarking), perguntavam qual o tema da tese e qual o orientador que tinha escolhido. Respondia sempre da mesma forma: “Inovação, mais especificamente, Clima para a Inovação”. Foram raros os casos em que não obtive uma resposta/pergunta relacionada com o facto de ir estudar as Novas Tecnologias ou as Tecnologias de Informação. O mesmo aconteceu com familiares e amigos fora da faculdade. E acontece com as pessoas em geral. Aproveitando o que foi escrito acima, o facto de a Inovação e as Novas Tecnologias terem sido a escolha do Governo Português como temas da Cimeira Ibero-Americana de 2009 pode influenciar, em parte, a confusão entre Inovação e Novas Tecnologias. As Novas Tecnologias fazem parte da Inovação, mas nem toda a Inovação é da esfera das Novas Tecnologias. Inovação pode manifestar-se através de uma obra de engenharia grandiosa, como por exemplo, o Estádio Olímpico de Pequim (ou Beijing, consoante os gostos), mais conhecido como Ninho de Pássaro. Pode manifestar-se também nas coisas mais simples, como por exemplo, utilizar um clip de escritório para resolver o problema da lapiseira que está estragada e que recolhe as minas ao escrever.

A Inovação está na moda. Na publicidade também é referida. Um produto que surja tem de ser inovador. Seja o design, seja o material de que é feito, seja o fim para o qual se vai utilizar, seja qualquer coisa. Terá de ser inovador. Exemplos disso são máquinas de barbear com cada vez mais lâminas, revestidas com uma liga metálica hipoalergénica, com uma pega ergonómica e com dezenas de patentes registadas num objecto quase insignificante que cabe na palma da mão e que ao fim de um tempo de utilização vai para o lixo. Outro exemplo é a cerveja, cujas marcas utilizam fórmulas artesanais, inventam novos sabores para adicionar à cerveja, introduzem novos designs de garrafas. Um dos últimos exemplos neste campo é um conceito que não sou o único a estranhar: cerveja de pressão engarrafada. Conceito inovador, embora estranho. Estas inovações em produtos são altamente publicitados, servindo de estandartes de desenvolvimento, obrigando concorrentes a desenvolverem novos produtos concorrentes, ou seja, a inovarem também eles.

sábado, novembro 8

ó magalhães, quem são as tuas mães

enfim, façamos todos o que pudermos uns pelos outros e essa será a melhor forma de evitar as finanças.

sexta-feira, novembro 7

Um abismo obscuro e viscoso, um poço que não se usa na superfície do mundo

Não sei quantas almas tenho.

Cada momento mudei.

Continuamente me estranho.

Nunca me vi nem acabei.

De tanto ser, só tenho alma.

Quem tem alma não tem calma.

Quem vê é só o que vê,

Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,

Torno-me eles e não eu.

Cada meu sonho ou desejo

É do que nasce e não meu.

Sou minha própria paisagem;

Assisto à minha passagem,

Diverso, móbil e só,

Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo

Como páginas, meu ser.

O que segue não prevendo,

O que passou a esquecer.

Noto à margem do que li

O que julguei que senti.

Releio e digo: "Fui eu?"

Deus sabe, porque o escreveu.

Fernando Pessoa