sexta-feira, março 15

C sharp


Num canto da sua mente surgia-lhe uma música clássica que lhe pareceu ligeiramente familiar. Os seus olhos encontravam-se fixos naquele ponto abstracto da parede, que à força dos movimentos bruscos, embora compassados, se transformava em riscos ilusórios contra o branco. Os sons que ecoavam nas paredes daquele espaço pareciam não importar. Nem tão pouco os corpos que partilhavam aquele espaço.
A sua mente quis concentrar-se em descobrir apenas o nome daquele trecho que reverberava nos seus neurónios e tudo o resto ficou mergulhado em algo aparentado ao som subaquático: abafado, lentificado, difuso. Sentiu algo viscoso de encontro à sua pele, que não identificou. Esta subtil deixa improvisada, fê-lo fincar com mais força os dedos nas ancas do corpo que acidentalmente, visto não ter dado pela troca, sodomizava. Devido ao som dos gemidos abafados pensou que estava a ser bruto e abrandou o ritmo das suas ancas.
Os músculos responderam, os gemidos abrandaram. 
Tinha agora apenas uma semi-erecção. “ Talvez o álcool…”, desculpou-se, fingindo.   Não interessava.
Onde teria ouvido pela última vez esta melodia?