quinta-feira, maio 8

"não só deus não existe, como tentem lá arranjar um canalizador num domingo à tarde"

1. estava a comer uns chocos antes de ontem e, abrindo um choquinho insuspeito, descubro uma sardinha pequena dentro da barriga do bicho. Fiquei espantado, claro, não comi a sardinha, claro, mas comecei a pensar na ordem das coisas e que a cadeia alimentar é uma cena muita estranha.
2. estava hoje a passar lá para o fim da Rua Augusta e, a certa altura - perto de uma loja de fotografias que pratica uns preços que só são justificados pelo facto dessa mesma loja pertencer a um indiano com o ego em alta- vejo a dona rosa, aquela do triângulo e dos ferrinhos que lançou um álbum e tudo, do meu lado esquerdo, preparada para desferir um riff mortal naquela merda. Depois olho para o meu lado direito e, quase em frente da dona rosa, está o homem cego que bufa naquela espécie de harmónio sem o qual,
 admitamos,
 a rua augusta não seria a mesma. Estavam os dois quase frente a frente. Havia ali uma certa tensão acho eu, mas não era de inimizade... 

2 comentários:

Homem da Fruta disse...

Provavelmente, a tensão sentida seria sexual, pois como são cegos, toda a gente sabe que o processo de corte és feito sonora e olfativamente. Ou seja, estavam os dois a tocar a sinfonia do acasalamento, exalando hormonas através das glândulas sudoríparas. Alguém ficou feliz nessa noite. Quer dizer, nessa noite ou dia, que para os cegos é tudo igual. Simplesmente diferenciam as fases do dia pelo número de pessoas que lhes dão moedas, pois estão imersos em constante escuridão.

Unknown disse...

lamento a pergunta pragmática, mas.... e o canalizador??