sexta-feira, maio 2

Acid Jazz

- Tem cuidado…

- Eu sou cuidadoso. Não sabes já?

Ela contorcia-se a cada dedilhação dele.

- As… Hmmm… tuas mãos… aaaahhh… as pontas… parecem borrachas… Aaaahhmmm…

Ele embrenhava-se cada vez mais no improviso. Ouvia nitidamente a música na sua cabeça. O clítoris dela era um amplificador da sua associação livre musical.

- É isto… Ahmmm… o teu acid… tsssss… JAAAAZZZZZ

Cada sussurro dela, cada gemido, compunham uma melodia penetrante. Soava-lhe a um saxofone sofrido, desgastado pelos sopros constantes e persistentes, perpetrados por todo o tipo de homens, ao longo da sua vida.

-Não…

- O que foi?

A preocupação dele foi forçadamente falsa. Não lhe interessava que ela sofresse ou não.

- Nada… Continua…

O improviso intensificava-se. Ele fazia escalas, frenético. Não parava num tempo. Os dedos fluíam pelos lábios lubrificados dela. O clítoris vibrava, como uma corda fustigada numa composição epiléptica.

- … jaaaaaazzzz

- Chhhh… Continua a gemer. Pareces o trompete do Miles Davis.

Ela suava. Ele fuma um cigarro e continua a composição mentalmente.

- Toma, fica com o troco. Hoje tocaste bem.

-Cada vez mais fico mais apaixonada por ti… Não te quero cobrar… Faço-o com prazer…

- Não. Toma. Não gosto de ti, gosto da tua música.

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