segunda-feira, setembro 27

Coimbra

Coimbra de dia é vulgar, não lhe encontro nada de especial nem na luz nem na sombra. É transida por pessoas iguais às dos outros sítios, mas com melhor aspecto e ar mais inofensivo do que aquele ao qual estou acostumado. Tem um rio, pontes pedonais, ruas e ruelas, escadarias, colinas intransponíveis e as mulheres têm na sua grande maioria e ao contrário daquilo que se vê em Lisboa, seios bem desenvolvidos - para além de usarem calçado mais fechado e indumentárias menos arriscadas.
À noite é o degredo, não vejo roubos, violações, agressões, mas os estudantes estão com o cio da libertinagem, urinam em todo o lado e sedem apenas quando o vómito escorre pela calçada abaixo em direcção à sé velha ou ao pátio da inquisição. As mulheres, enfim, miúdas roubadas a uma qualquer família de uma Beira, autênticos répteis de tão frias estarem; litros de maquilhagem que inviabilizam qualquer expressão mais quente e não há um único sorriso feminino durante a noite que passe dos lábios e chegue aos olhos.
Alguns andam nus ao abrigo de uma tradição qualquer, outros, mais funestos devido a uma não aceitação, levam tudo à boca e tentam qualquer coisa para serem notados nem que seja por uma fada corrompida por sonhos que nunca chegou a perceber.
Transito e não gosto do que vejo, magoa-me, deixa-me tão distante, tão fora, tão inútil, pois é pouco o que posso observar que passe do nível do traço. Não há emoção em Coimbra, não há um piscar de olho, um arrepio, um frémito que evoque um par de dedos ou um toque mais prolongado.
Salvou-se aquela no Jardim Botânico, que se arriscou a encarar-me nos olhos e apanhou o susto da sua vida com o que viu.

1 comentário:

centesimal disse...

ou seja, é tudo igual em todo o lado