quarta-feira, junho 3

Herbalife ou Jesus?

Ao entrar numa fila de trânsito, gosto sempre de ver o carro à frente. Mesmo que não gostasse, tinha de levar com ele. Mas gosto de ver a matrícula, o ano, eventuais autocolantes no vidro traseiro… Hoje, ali em frente do Campo Pequeno, fiquei atrás de uma Opel Astra de 96, com um condutor que me pareceu, pela tez e feições brasileiro, com um espelho retrovisor gigante, igual aos que se usavam nos carro de instrução no antigamente. Até aqui tudo bem. Conforme me aproximo do carro, vejo que tem umas letras enormes coladas no vidro traseiro. Primeiro pensamento: mais um gajo que foi submetido a uma lavagem cerebral pela Herbalife. Segundo pensamento: ou então uma gaja com o cabelo muito curtinho. O que dizia de facto aquele composto de letras adesivas? “Jesus está Vivo!” Fiquei contente. É bom saber que alguém que está morto vai para 2000 anos voltou à vida. Ainda para mais, quando é uma figura pública que é esperada por muita gente. Só tenho pena que quando Lázaro ressuscitou não houvesse o desenvolvimento na indústria dos adesivos que há hoje, que em 2000 anos se desenvolveu de forma exponencial.

O senão daquilo foram as letras pequena, por baixo das maiores. Sim, é sempre importante ler as letras pequenas, não vá um dia sermos acordados por umas pontadas na barriga, enquanto cirurgiões retiram pedaços do nosso saudável (ahem) fígado para doar. O que diziam estas letras? “Eu falei com ele hoje!” Ok, meu amigo zuca, uma coisa é dizeres que fulano está vivo. Agora, que falaste com ele hoje? Mas quem é que acredita que, depois de 2000 anos morto, sempre à direita do pai, sem poder comer uma gaja, fumar uns cigarro e beber umas jolas, Jesus, uma figura mediática, reconhecida por todos, ia logo falar com um brasileiro, imigrante em Portugal, a conduzir uma Astra de 96 com um retrovisor panorâmico? Ó eras! Se eu fosse Jesus, ia em primeiro lugar procurar uma prostituta para a salvar (se me faço entender), beber uma mini com uns amendoins, e ler A Bola para ver como está a safar-se o Calipolense nas distritais! Agora, falar com um gajo que há décadas reza e canta? E que anda com uma cruz ao pescoço! Se eu fosse Jesus, a última coisa que queria ver à frente era uma puta de uma cruz, que pelo que vi na Paixão de Cristo, deve ter doído um bocadito (Hicks, 1992).

Assim, e para concluir, acho que a Herbalife é como Jesus: parece uma solução viável para os nossos problemas, mas acaba sempre por nos desiludir.

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