segunda-feira, outubro 5

Jovem Mãe Divorciada

Uma noite dormida na praia, recordas-te? Sempre tão frio ele era, distante e com prioridades que lembravam apenas ao raio do mafarrico. Às vezes davas por ti a chorar, mas sabias bem o que querias, não tinhas dúvidas e a tua obsessão fazia com que lutasses, combatesses com as tuas armas nada convencionais os desígnios que te haviam sido entregues - não irias perder outro, desta vez, por mais que te doesse, farias sexo anal. Agora, estás anafiláctica e tens um filho com o córtex pré-frontal completamente fodido, não pára quieto, não se consegue inibir, as suas sinapses são imensas e não fazem qualquer sentido, ele vê-te a chorar mas não se importa, porque nada sente por ti. Ninguém te quer para lá da carne, vales apenas pela adiposidade, pelo esqueleto, pelos apêndices mamários, não vale nada a tua alma, a tua mente, o teu olhar ternurento e cheio de uma súplica que excita o psicopata ou o pessoal da agro-pecuária. Ninguém te quer, pois tens um filho, ninguém quer ser pai dos filhos dos outros, ninguém quer aturar esse pedaço de excremento humano a que chamas filho, cheio de genes impuros advindos do lado paterno. Um destino merdoso, o teu, 25 anos e sem expectativas; querias sair e abanar a firmeza que te resta num sítio qualquer, a ver se chamas a atenção e te iludes a ti própria durante as horas em que eles não sabem quem tu és nem de onde vens, mas não podes sair, não podes deixar esse homúnculo sem guarda permanente, esse pirómano sem vigilância depuradora. A tua mãe não toma conta dele, chora-se e diz que está velha, que não consegue e dentro da sua cínica docilidade, faz-te sentir tão culpada por teres sido deixada, abandonada por aquele que agora comprou um carro novo e na tua óptica se diverte à grande. Tentas ter um pouco de carinho, agarras o miúdo e falas-lhe carinhosamente como quando fazias ainda ele estava no teu ventre, prolongas muito as vogais, como se faz com os bebés e com os animais de estimação, afagas-lhe o cabelo e notas-lhe as trombas iguais às do pai; ele quer libertar-se de ti, mas tu agarra-lo com mais força, ele debate-se, degladia-se para se afastar do teu torso que ali paira tão perto, exasperas e bates-lhe, ele bate-te de volta e sai da sala, tu ali ficas, só, a chorar, desejando que acabe o feriado e que chegue a terça-feira, para o deixares na escola onde ele mata animais e não se adapta e ires trabalhar num sítio que detestas, a atender telefones e a desejar secretamente um despedimento que tanto temes.

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