sábado, setembro 12

EISHHHHHHHHH

E lá está ele, o príncipe da madrugada, o entradote dos movimentos felinos na discoteca, já há 25 anos que assim é, sempre sem sucesso, sempre sem nada que lhe dê esperanças, mas, não precisa de tal coisa, não precisa de sucesso, não precisa de toque para além do roçado, não pede mais que resvalar o seu pénis em nádegas de 3 gerações diferentes, há 25 anos a roçar em nádegas, mães e filhas já ele reconhece como tendo andado bem perto da ponta do seu avantajado bacamarte.
Os amigos mudam, quando ele tinha 20 anos, os amigos tinham 20 anos, quando tinha 30, os amigos tinham 20, agora tem 45 e os amigos continuam com 20. Fuma um cigarro encostado à sua carrinha que está estacionada no parque de estacionamento de um hipermercado e conta uma história ou outra a um dos miúdos que trabalha com ele e com quem vai rumar à discoteca, dançar as novas tendências; passou do rock, para o disco, para o techno, para a kisomba e kuduro, para o funaná, para o reggaeton, foda-se, tanto lhe dá, porque ele é uma máquina, um aspersor de olhares néscios e rebarbados. A brilhantina acabou e levou consigo a maioria dos cabelos, os que continuam, agora são rapados já depois de terem passado pela fase do gel. Quando ninguém está à espera, saca uma pistola do porta-luvas e mais uma vez, uma vez mais, um bando de jovens impressionados, um respeito conquistado e o apontar da arma a uma velhota que ali passa, para gargalhada geral; a velha assustada vai-se embora e ele, sedento de gargalhadas ainda diz «comia-te esse cu todo, és tão boa maezinha», resulta e o facto de um dos tipos já ter assistido a uma cena igual num fim de semana anterior, não o importa minimamente.
Na discoteca, seja lá qual for a música, ele, sem saber, é um gajo dos blues, nunca ouviu Canned Heat nem a sua "on the road again", mas é esse o ritmo que o impulsiona, de braços abertos, a morder o lábio inferior e de olhos semicerrados, a cintura endiabrada, agita-se com um impressionante fulgor e pretende roçar-se em glúteos mais convincentes, em ancas mais cativantes, em epidermes incautas que por ali andam descobertas, à sua mercê; inocentes? nunca, se ali estão, querem foder. Circula uma joint e tu fumas, porque até fumarias merda de cavalo se fosse preciso, tanto te dá. Nem sabes bem o que é a droga e o que faz, mas já experimentaste tudo sem ficares agarrado a nada, tens uma t-shirt que diz "eu digo não às drogas. Mas elas não me ouvem..." mas não dizes não a nada, sabes lá tu dizer não... ah., esquecia-me das prostitutas, dizias não aos preços que consideravas exagerados e sabias bem regatear e elas, elas eram novas, ano após ano, mudavam, algumas ficavam, mas nunca tanto tempo quanto tu, seu velhaco.
Passado mais um fim de semana, mais umas noites em que nunca voltas com as pessoas que vais, vens sozinho, dás boleia a pretos, brancos, ciganos, a bebedeira desinibe-te a pistola aquece-te os arrepios, despistas-te, chegas a casa com o carro batido e não te lembras de nada, tanto te atazanam o juízo... No trabalho nunca te perguntas porque raio nunca és promovido, em casa, com a velhota que esperas que morra, irritas-te e estás por lá o menos que podes, principalmente quando a tua irmã aparece de visita, isso é insuportável e tens receio de te virares ao teu cunhado que te trata como um miúdo de recados. «45 anos e um tesão do caralho»
Cortas um chouriço cozido na sopa de feijão, sentado nas escadas da entrada da casa geminada onde vives, o rafeiro velhote chega-se ao pé de ti e dás-lhe uma rodela, depois outra, o cão quer mais e chega o focinho ao chouriço e tu dás-lhe um biqueiro que o faz ganir durante um minuto, depois volta-se a chegar a ti. Levantas-te e vais para o café, não suportas mais aquilo, o ar de luto da velha, os seus lamentos infinitos que te fazem sentir um assassino, um condenado «João, tu dás cabo de mim, vais matar-me João, essa tua vida deixa-me tão triste». O dono do café é paneleiro e tu comes-lhe a mulher que parece um pau de virar tripas toxicodependente, com mamas grandes. Os carros passam e apitam-te, tu da esplanada a emborcar imperiais acenas e manda-los po caralho, para riso de quem te acompanha, riem-se sempre, não é seu brejeiro?
Adoeces e cais no Hospital, sentes-te mesmo mal e notas que até os peidos te custam e doem, nenhum amigo te visita, aparece por lá a tua mãe e a tua irmã, que se mostram enfastiadas e mal chegam, ainda antes de carpirem qualquer coisa e mencionarem santos para tua exasperação, avisam logo que não podem ficar muito tempo, pois têm de ir às finanças, ao banco, aos correios, ter com o sr ou a sra qualquer coisa. Sentes-te mesmo sozinho mas o teu pénis ainda se levanta, inspirado pelas enfermeiras que levemente cirandam por ali com as suas batas que a tua mente nublada torna mais curtas ... A tua sobrinha aparece, garota de uns 2o anos, com uma prateleira descomunal e um rabo que se parece mais com o 25 de Abril do que o próprio 25 de Abril. Vem com o seu namorado, tão negro que tu encandeado com a luz que vem da janela, só lhe consegues detectar os dentes e mais um detalhe ou outro. Pensas que agora é o tempo deles, dos pretos, que no teu tempo é que era, é que eras... Foda-se, o teu tempo foi todos os dias, o teu tempo nunca passou, reinaste, foste o príncipe regente da Quinta do Conde durante 25 anos, foste príncipe ainda nem haviam esgotos, mantiveste-te príncipe depois da internet ter chegado e induzido homossexualidades que sempre te pareceram vantajosas «ficam mais aqui para o Zé».
Espera agora pela morte, pela morte que se anuncia através dos canais venéreos, pela morte que não te envergonha apesar de envergonhar a tua família. Esperas pela morte e dás um berro à tua irmã e aos seus suspiros, discutem e ela diz que lá não volta, era o que ela queria, um motivo. Morres e já ninguém te visitava há duas semanas, nem a tua adorada sobrinha, que tu calculas que o preto nem deixa sair de casa, fode-a sem parar, fode-lhe a cona, o cu, o umbigo a boca, as orelhas. Mas isso serias tu, meu príncipe, isso serias tu se alguma vez tivesses tido uma mulher tua, uma mulher que fosse tua de sua livre e espontânea vontade, nunca tiveste e morres assim, só, no teu reinado, morres sem deixar herdeiro, já não existem como tu.
...morreste, sim, mas só depois de pedinchar uma última punheta à enfermeira, que ta recusou sem te dar margem para insistires noutro dia. Recusou-te e fode com um tipo qualquer que nem sente 5% do tesão, que tu já meio cego e no leito de morte, sentiste por ela.

3 comentários:

Chigurh disse...

Podia ser eu...mas acho que começo a divergir desse caminho

Muito bom pá, a existir gostava de ter conhecido tal personagem.

Nada disse...

o teu amigo tó não anda longe disto... uma surda-muda, um colchão na carrinha... devias escrever um post sobre ele.

Um depois de Edgar disse...

LINDO! Cum caralho!