domingo, fevereiro 14

3M - mais um mau texto

Um corpúsculo qualquer atiça-me uma memória aleatória através do meu totoloto mental. Leva-me para a adolescência - período interessante, algo atípico no meu caso. E que acontecia nesse período? As mulheres ainda me rejeitavam, rejeitavam-me com tanta facilidade, como se eu fosse uma espécie de desalmado vazio, de aparelho mecânico que ali calhara aparecer. Lembro-me dos seus olhares de desdém, do escárnio que libertavam quando eu, ao invés de lhes espetar dois lânguidos e repletos de germes, beijos na cara coberta pela secreta oleosidade que também faz crescer os seios e os pêlos púbicos, lhes esticava a minha mão com dedos tortos e indicadores de pouca perícia no secreto dedilhar que eu ainda nunca havia experimentado. A última vez que fui rejeitado antes de conseguir aceder a uma intimidade que só mesmo a obtusidade da idade imberbe me fazia querer exclusiva, foi no primeiro ano de faculdade, algures na viragem do milénio, depois de ter sido rejeitado pela rapariga dos dentes de castor. Ela era alta e loira, falava demasiado baixo e era completamente desprovida de sentido de humor entre outras coisas que como essa, para nada importam; morava em Carcavelos, por cima de um cabeleireiro ou uma escola de condução, não me lembro bem. Tinha a pele alva que eu imaginava cheirar a pêssego e um passado esquecido algures pela África do Sul. Bem, nada disto é importante, ficou apenas o registo de ter sido a última a rejeitar-me nas condições atrás referidas; nem as caminhadas até Porto Brandão, nem os ridículos comportamentos dignos do jovem Werther a dissuadiram de simplesmente ignorar-me e provocar-me ridículos lacrimejares durante crepúsculos passados em cacilheiros repletos de anónimos.
As mulheres quando se aproximam dos 30 e por um qualquer motivo, que não importa agora decorrer sobre (façamos de conta que é magia), estão sós, entram num estado especial de verosímil decadência embora depilem as virilhas com maior frequência, é uma disposição que se recuassem uma década, não conseguiriam perceber, discernir, mas, as pessoas não regressam ao passado para analisar, para reflectir, se o fizessem, claro que não estariam sempre a cometer os mesmos erros, a magoar das mesmas maneiras, a magoarem-se com as mesmas pessoas e até objectos; haveria menos agonia e menos órfãos e as mulheres solteiras de 30 anos, ainda conseguiriam rejeitar.
Esse estado especial que lhes torna a volúpia em banal carnalidade catalisada pelo relógio biológico, em termos de linguagem, reflecte-se apenas em três prerrogativas acerca daquilo que querem (um homem).
1º Tem de ser solteiro.
2º Tem de ter emprego.
3º Tem de ter uma libido saudável.
Claro que o cumprimento das duas primeiras premissas, irá permitir que testem a 3ª (Ok, nem sempre, por vezes dão por elas próprias na cama com alguém cujo pedigree ainda é unknown). E mais óbvio que isso: se um de vós for um tipo que anda recentemente a pinar um tipa de 30 anos ou arrabaldes, solteira, sabe! fixa! que se não fosses tu, era outro, muito melhor que tu, muito pior que tu, tanto faz, ninguém quer mesmo saber. Se ela por acaso for divorciada e acontecer ter filhos, fica a saber que nem precisarias de ser humano, podias facilmente ser substituído por um canídeo e uma lata de de manteiga de amendoim, o preço do víveres irá decidir entre os dois.
Mas não se pense que a vida das mulheres é fácil, não pensem que aquele trio de categorias é fácil de preencher. Não seus idiotas, não tem de ser um emprego pomposo, basta para a mulher que seja relativamente estável que a sua natural capacidade de condescender e embelezar a realidade, faz o resto; as mulheres, por mais incrível que pareça, até gostam de polícias; adoram operários fabris e tudo o que for de declarado colarinho azul - nada como umas mãos com calosidades e uma rudeza declarada que deixa adivinhar uma boa satisfação da 3ª condição. Mas hoje em dia há tanto desemprego... Também não é fácil encontrar um tipo verdadeiramente solteiro, que não tenha jogos, filmes, dvds, coisas estranhas que a mulher, tantas vezes, engole em seco e tenta fingir que não sabe das mesmas. A 3ª condição, enfim, o meu senso de ironia impede-me de a comentar, não vá eu ter um ataque de epilepsia de tanto poder divagar.
Pobres delas... dedicam horas a um olhar que circundam com uma carregada linha negra, para se embelezarem, para parecerem menos mal dentro da formosura que como um membro que foi recentemente decepado, ainda se faz sentir através de verosímeis palpitações, num reflexo, numa nuvem difusa que por vezes, à luz das velas perfumadas, se revela no espelho ligeiramente embaciado pelo banho de há minutos. O cabelo penteado com cuidado, a melhor roupa, interior, entenda-se. Sonhos, ilusões, planos, um homem... Um homem apenas, que durante aqueles preparativos, durante o confeccionar da sobremesa ou do refugado, não aparece sob qualquer avatar, é apenas uma peça que cabe no puzle, com ou sem tesoura, com ou sem batota, com ou sem dignidade feminina, caberá, servirá, trará uma felicidade que só se revela num nível de vida, nas tardes em que não está, nas conversas com as amigas solteiras, na construção de um rebento e consequente respirar de alívio. Não pensem que é fácil, não pensem que não as respeito. Vejo-as, nas suas barrigas, nas suas estrias, no cansaço, na inépcia, no não fazerem nada bem e no ouvir de palavras secas, no descobrir coisas e guardar, ofuscá-las «se não pensar nelas, não existem». Subjugam-se, ejaculam-lhes para a face, para o cabelo que fica todo empecilhado, batem-lhes e elogiam outras, da televisão, do prédio, a rapariga de 14 anos que por ali ciranda para a delícia perversa do homem que outrora, ela preferiu à solidão, ao fantasma da esterilidade que tanto pairava aquando os horríveis pesadelos...
Já não há amor para dar, existem apenas hiatos para preencher, reflexos para se libertar e um grande frio na cama. Quanto mais gordas forem, mais frio têm, pois o seu volume levanta mais os lençóis, o que provoca maiores correntes de ar.

3 comentários:

Anónimo disse...

nada, já passo dos trinta e não quero homem/n. mulheres também não. serei assexuada, doente mental ou quê?

aquele "corpúsculo" ao início foi propositado ou é do impulso?

Anónimo disse...

Que grande projecção do nosso autor nas mulheres.
Mas se de facto isso for assim, sinto-me contente, pois ainda tenho nove anos de amor para dar antes de chegar aos 30. Dar amor exige criatividade, os seres inferiores nessa área da vida só conseguem mesmo mexer-se para preencher vazios. Portanto, o problema não é a idade nem o sexo, mas a capacidade criativa, que em muitas pessoas é completamente falha...
Deixa lá as gordas em paz, que merda de obsessão...

Anónimo disse...

lol