segunda-feira, abril 14

Frágil

Não sei bem que escrever agora, neste momento de profunda diluição mental, onde tento a todo o custo centrar-me num irrealista objectivo literário, dada a escassez do meu talento, dada a vital importância daquilo que eu sinto para a subsistência das minhas putrefactas palavras. Gostava de poder inventar, escrever para além de mim, do meu decrépito âmago, mas, não, não consigo, tudo o que ejaculo é uma reverberação do meu sofrível e ignóbil intelecto. MORTE À VÂNIA PARDAL! Tomo o pequeno almoço no carro enquanto conduzo e escrevo dezasseis por extenso, é nisso que penso, é o que me recordo e dá-me um aperto no estômago por assim ser, e por dizer que "dá um aperto no estômago", ser sempre um acrescento no que a palavras estéreis concerne. Oiço a Echoes de Pink Floyd e troco um par de irritantes frases de conveniência com alguém do passado que não merece a minha consideração. Meto a música de início quando chega aquela parte do meio, demasiado progressiva e sonoramente dispensável. E pronto, soltei um flato. Não tenho nada de interessante para escrever, nem mesmo para dizer, como numa daquelas noites em que estamos todos juntos, onde brilhamos, primeiro um, depois o outro, por aí fora, enriquecendo os minutos nocturnos que nos ouvem com admiração e se riem das bravatas parvas que correm sem parar e saem da nossa cassete preferida, a da miséria, a dos tipos perdidos que não conseguem sentir, que... trocam olhares cúmplices e nada precisam de dizer, de considerar, sabem tudo, porra, é tudo tão óbvio, é claro que a vida nada mais tem para nos dar que nós próprios. Escrevo esta merda para vocês porque vos amo, meus miseráveis, meus depressivos camuflados de tipos cultos e inteligentes, que sofrem em silêncio e presenteiam os demais com um cortante sentido de humor que premeia e culpa todos, sem excepções, porque pá, NÃO HÁ VACAS SAGRADAS. FODA-SE!

1 comentário:

Homem da Fruta disse...

Mais uma vez, Nada, prescrutaste a (suposta) alma da nossa gente. Penso que após este post, deveriamos cessar funções, pois é o retrato fiel da vivência que nos liga a todos. Penso que posso dizer que estamos juntos na anedonia, mesmo quando temos prazer em estar juntos. Pode parecer incoerência, sim, porém é o que penso. Se sentisse, poderia dizer que me emocionei com as tuas palavras escritas.