segunda-feira, junho 30

Engate.

Ouve-se a Shine a Light de Spiritualized...

Olha sem expressão desde a parede onde se encosta para a outra parede que fica do lado oposto da rua. Tem cabelo muito curto e escuro. Um copo na mão e um sorriso de pessoa perdida entre demências e seres que a influenciaram de maneiras caleidoscópicas. Sabe lá ela para que aqui está, sabe lá ela justificar as suas preferências, as suas rejeições, escolhas, indecisões. Tem jeito com as mãos e continua com o sorriso belo mas doente.

Encosto-me a seu lado e...

«Se tudo isto não fosse um idiota jogo de aparências e houvesse lugar para o conteúdo, tentava engatar-te de forma súbtil, utilizando o intelecto e uma ou outra posição que me favorecessem os ossos da bacia, mas, sei como as coisas funcionam, não vale a pena. Vou apenas ficar aqui encostado nesta parede, ao teu lado, aceitando o teu desprezo e aguardando que discretamente te afastes de mim. Espero ao menos, que a 5 ou 6 metros de distância, olhes para trás, não resistindo à tentação de ver nem que por alto, as feições do tipo que agora, com esta voz entediada, se dirige a ti.»

Afasta-se lentamente, não olha para trás. Cedo começo a dirigir-me para o lado oposto, sem me voltar, para poder pensar que talvez, ali mais à frente, na esquina, ela tenha olhado por cima do ombro e trocado todo o vazio que ostentava por um ar de séria desilusão.

Sem comentários: