"Pedro está sozinho na sorumbática plataforma, com uma postura que revela uma melancólica acessibilidade espera o metro que acaba sempre por vir. Lúcia desce as escadas, passo a passo, desvanece-se no cinzento da própria vida, flutua no conforto de mentir a si própria, de se convencer que já não acredita. Ignora a musak e repara no rapaz, mas finge que ele não existe, contudo, pensa nele, e não pensa de uma forma casual, apesar do forjado ar de casualidade. Senta-se à sua beira. Ambos fixam o outro lado da deserta e estéril galeria, nunca se olham, não volvem um para o outro, mas… as mãos… as mãos, levadas por um impulso preenchido por humana necessidade, flutuam sobre os jeans, ultrapassam o atrito como aviões a penetrar as outrora intocáveis nuvens e… unem-se suavemente, um toque ligeiro, um entrelaçar de dedos.
Vão para casa, percorrem a calçada iluminados pelas ejaculações luminosas de candeeiros de uma romântica sinistralidade. Paz, harmonia, tristeza partilhada que se transforma em algo confortável e apaziguador.
Pedro, o teu olhar… A Lúcia não o viu…
Lúcia, o teu olhar… O Pedro não o viu…
Cobardes, cobardes, cobardes.
Uma noite solitária no albergue, uma daquelas luas partilhada por ambos, carregada de um peso metafísico que deixa nas suas celestes entrelinhas, perceber-se uma insatisfação ignorante e displicente. Um olhar, prolongado nos segundos da dolorosa sensação de reentrada na realidade, uma certeza… não valeu a pena.
Partiu e não ficou. Se ele ficasse, um dia partirias tu, até podias para sempre ficar, mas já lá não estarias."
Citando as palavras de Nada.
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