quinta-feira, junho 26

ET

O meu carro, apesar da bateria nova, já não é o mesmo de outrora; já não é aquele meu complemento, já não somos uma entidade biónica. Muitos de vós que aqui lêem este texto, já tiveram o prazer ou o desprazer de viajar na minha viatura de há muito tempo, ouvir prosápia, pisar os grãos de areia e materias estranhos que se acumulam no chão por entre papeis de tudo, algumas inclusive, tiveram initimidades naqueles estofos esverdeados e conspurcados pela ausência de limpeza que para mim é um ditame quase filosófico.
Escapa-me nas curvas, trepida bastante quando passo os 90km/h, já não consigo disfarçar os ruidos parasitas com a música que sai por umas colunas velhas ligadas a um rádio antigo e contrafeito. Custa-me as respostas lentas e demoradas, as saidas da inércia com birras e jeitos de quem quer fingir ter alguma pesonalidade.
De qualquer forma, não me consigo desfazer dele e tenho a dúvida constante se de facto será melhor para mim trocá-lo por outro, se de facto me quero livrar dele ou não.
Concluo apenas que o meu carro é a mesma coisa que as minhas relações.

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