Continuava a debitar palavras que sofrivelmente formavam débeis frases que quase me embaraçavam mesmo eu não me importado com nada; sentia-me tão incapaz, tão aborrecido. Tentava, por pura vaidade, redimir-me e mostrar a minha fibra diletante, chamava a mim aquela tão habitual e normativa retórica aparentemente profunda, mas, ela não surgia, continuava completamente encarcerada no fundo do meu estômago, ou talvez, no cólon, não sei...... então, ali estava eu, o verdadeiro eu, sem qualquer foco de inspiração pedante para disfarçar a mediocridade. Olho para a lua, para o enorme quarto minguante que ali surge, no cimo de edifícios que circundam a vasta praça com um monumento ao meio; olho e demoro-me o mais que posso, quero ficar por lá, não ter de voltar a encarar a minha mediocridade; cai-me uma lágrima, sim, penso que sim... - Estás a sentir-te bem? - Não, talvez não... - Queres ir embora? - Sim, vou andando. - Gostei muito de ti - diz-me sorrindo - és muito interessante, espero voltar a ver-te, um dia, uma noite. - Verás. - Até breve, estranho...
segunda-feira, agosto 25
Rendez-Vous
sábado, agosto 23
quarta-feira, agosto 20
Jacques Chirac à Jerusalem
Os Nomes
terça-feira, agosto 19
O que é feito da expressão "O tempo está bom, hã?"
- Não está a ver quem sou eu?
- Não… Peço desculpa… Mas, realmente…
- Sou a Adosinda, lá da rua. A senhora não me deve ‘tar a conhecer.
- Ah, sim, já estou a ver. Bem me parecia que não me era estranha. Bom dia!
- ‘Tá a ver ist’e? Fui eu, que caí.
- Ah, que aborrecimento.
- Pois, é é. Já fui ao médic’ e ele não sabe o que é. Volta e meia desmaio-me, e depois olha, dá nisto. Esta última vez foram 5 dentes. Da outra foram só quatro. E já não voltam a crescer.
- Pois… Realmente, é uma chatice…
- Ainda por cima, a minha mais nova, não sei s’a senhora conhece, a minha Maria do Rosário, que dei-lhe este nome por causa da ‘nha mãe, que eu gostava muito, mas morreu-me cedo… Tinha eu 22, tinha acabado de casar. O meu marido foi trabalhar para a Alemanha, disse que me mandava dinheiro para eu ir para lá também, trabalhar para as limpezas, mas até hoije, nem truz nem muz…
- Pois… Este 28 que nunca mais chega…
- O que é que eu ‘tav’á dizer? Ah, a minha mai’ nova, a Maria do Rosário, agora deu para se meter a trabalhar a vender gelad’s na praia, já viu isto? Eu já lhe disse… “Maria do Rosário, eu não andei a pagar o curso profissional de cabeleireira para tu agora me andares a vender gelados a camónes…” E ela só me diz que é para o verão, até arranjar um emprego… Mas nunca mais. E ela ‘tá magra como uma cadela depois do cio. Aquilo emagrece a olhos vistos. E eu, ando para aqui preocupada, que já lhe disse “Maria da Conceição, tu vê lá a tua saúde, tu não andas bem. Vai à médica da junta, que ela vê-te num instantinho”, mas ela não quer ir, e diz que ‘tá bem, e que é só cansaço de ir ao centro de emprego e vender os gelad’s…
- Já estamos aqui há uma hora e o 28 não vem… E a chuva não tarda cai…
- Que parvoeira a minha, eu disse Maria da Conceição… Essa é a minha irmã que está no hospital… Vou lá agora vê-la. Uma trombose, coitadinha… Lembrei-me da minha mãe… Que me morreu nos braços, não sei se lhe disse… A minha irmã foi a mesma coisa… Pensei que se ia ficar ali… ‘Tá a ver aquela esquina? Foi lá!
- Olhe, vem aí o 28! Então boa tarde!
- Adeusinho, passe bem!... Mal criada, nem me mandou as melhoras… Quando a vir na rua, nem lhe digo nada…
(…)
- Olá, boa tarde! Como está?
- Boa tarde…
- Sou a Adosinda, sou lá da rua! Vivo ao pé da mercearia do Ti' J'aquim!
- Ah sim! Como está?
- Olhe, eu cá vou indo… Isto temos cá um país… Então não é que só tenho consulta do médico dos nervos em Janeiro? Deve ir p’á França, de férias, no natal. Deve ser isse. Ainda hoje são 11. Veja lá bem isto…
- O 28 está cada vez pior…
-Pois.. Sabe que a minha mais nova está nas drogas? Aquela gaiata enganou-me bem enganada…
- 1… 2… 3… 4… 5… 6…
- E a minha irmã morreu-se-me nos braços, naquela esquina… Coitadita… Pobre coitada que a vida só lhe trouxe desgraça…
- TAXI!!!
domingo, agosto 17
Shine a Light - Dark Light
9.69
quarta-feira, agosto 13
CANIJA
Beijing, ou a Arte de Destruir Sonhos
Estou completamente do lado dos organizadores da cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim (ou Beijing, como Alguns portugueses passaram a dizer, só porque aparece nas emissões televisivas). Mudaram a miúda que cantou só porque o seu rosto arredondado e a sua dentição não passavam a imagem de perfeição que seria necessária numa cerimónia como esta, num evento como este. Ok, é certo que não é justo para o rouxinol feio. Mas, meus caros, eu não quereria ver uma valquíria a fazer um flik (ou flip, nunca sei… os fonemas são perecidos) como um dos hipopótamos dançarinos da Fantasia da Disney (esta referência foi muito gay…).
Este assunto é-me particularmente familiar. Há uns tempos, quando comecei a conhecer uma banda que andei a negligenciar alguns anos, os Anathema, fiquei viciado numa música chamada “A Natural Disaster”, interpretada por uma voz feminina quase perfeita. A fluência com que as notas expiradas por aquela boca atingia uma quase perfeição. Posso confessar que, por momentos, me apaixonei pela voz. No entanto, fui apresentado virtualmente (por intermédio do youtube) à dona da voz, pelo meu caríssimo amigo Chigurh (filho da puta que me estragou a imagem perfeita associada à voz!!!). Bem, fiquem de seguida com o vídeo que me destruiu uma imagem quase perfeita. Proponho que, para terem a mesma desilusão que eu vivi, ouçam primeiro a música, sem verem o vídeo. Depois sim, vejam o vídeo.