terça-feira, agosto 12

fado, os blues portuguese

estava um velhinho meio bronzeado pelo sol de cidade, boné esfiapado,  emparelhando cartão nas traseiras de uma loja da baixa. Tinha um relógio que, para ser lido, precisava de uma certa torção no pulso. Um pouco mais longe vinha uma camioneta do lixo que, a estas confusas horas da tarde (eram quatro e tal) vem recolher o papel dos restaurantes e assim. Confusão garantida, claro, ainda para mais que abriu uma nova empresa de aluguer de carrinhos amarelos. Uma patetice para turista que só fode o estacionamento aqui na zona. Dizem ou pensam todos isto, vê-se nas sobrancelhas franzidas. Eu gosto de lhes chamar peste amarela, é a peste amarela, digo eu para a minha mãe à laia de alternativa que me impede de ir lá aos berros dizer que isto não pode ser assim, etc. 
De qualquer forma, havia ali uma tensão, entre o velhinho que arrecadava cartão para ir vender ao quilo nos lugares que só a gente com mais de sessenta anos conhece, e o camião que lhe vinha recolher papel. Eu passava, estava no meio dos dois, e fazia um vértice entre estas duas cenas. Vou buscar o meu carro, que estava lá para cima, e volto para baixo. Passo pelo velho. Ele olhava desconsolado para o mostrengo verde que desaparecia na curva com a Rua da Conceição. Levaram-lhe o cartão todo.

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