domingo, agosto 17

9.69

Como será… ver alguém de quem gostamos mesmo muito, se é que é possível gostar mesmo muito de alguém, subitamente decapitado? Que será que sente a senhora de cinquenta anos que vê o seu marido das mesmas idades, decapitado por um acidente de trabalho no quintal, quando estava, com a perícia do costume, a arranjar uma alfaia agrícola? Como se sente o tipo que teve um acidente de automóvel, olha para o lado e vê apenas o corpo da namorada que tem umas mamas celestiais? Que será que sente uma mãe que olha para o seu literalmente acéfalo bebé que havia nascido perfeitinho, com olhos verdes e que havia sido motivo de grandiosas graças? Dou por mim a pensar nisso, dou por mim a tentar perceber o que são os sentimentos, como sentimos, como reagimos ao de mais intenso, ao extremo; tento imaginar a situação, faço muita força, quase que entro num transe espiritual, mas não, fico completamente inerte, não sinto coisa alguma.

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