domingo, agosto 17

Shine a Light - Dark Light

Tarde de domingo, estou praticamente catatónico a ver tourada ao som de spiritualized; não mudo de canal por uma espécie de bloqueio mental e tenho um pé em cima da mesa da sala; olho para aquele muito pausado e colorido corrupio que a televisão me mostra por entre planos em que tipas loiras e crianças aparentemente saudáveis são filmadas directamente das bancadas. Aquelas indumentárias garridas que os tipos usam; os animais com grande porte e de uma beleza que sei que só agora comecei a apreciar, cheios de sangue e de uma fúria contida por anos de condicionamento. Deliro, sinto o sangue a fazer-me renascer, a turgescer-me parte a parte, acordo e sorrio - devo ter os olhos a brilhar e inclino as costas de forma a ficar com a cabeça mais perto do ecrã. Ninguém pára o animal, aquele grupo de forcados presunçosos e arrogantes, que por dentro tremem e sentem, sentem muito aquela adrenalina merdosa que confundem com o sentimento genuíno, com o verdadeiro viver; lá estão eles, fétidos, fedem a vicariante, a mefítica necessidade de afirmação. Pulo, guincho, o touro destrói tudo, ninguém o detém, sinto-me genuinamente feliz, alegre, não me lembrava de me sentir assim e nunca mais assim me voltei a sentir. Se ele não tivesse os cornos serrados… Segunda tentativa, mas ninguém doma a besta, desta vez ficaram dois à frente para a pega, mas volta-lhes a correr mal e, adoro aquele animal, tão gracioso, adoro-te mesmo, minha besta negra. Acabo por perder a paciência e mudar de canal, assim, evito ver a besta que certamente, acabaria dominada e mais tarde, morta, acabada, arruinada… mas se algum dia para além de mim, alguém me ler, lembre-se da besta negra que apesar de alucinado, drogado por estímulos confusionais, levou tudo à frente e lutou contra o burlesco e macabro destino que lhe foi afiançado.

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