segunda-feira, outubro 27

toma lá...

Temos memórias que permanecem mais ou menos intactas, depende também da teoria, corrente ou meta qualquer coisa a que recorramos para decidir acerca da perenidade das memórias. Mas tenho uma dentro de mim que parece ocupar uma parte inteira do cérebro, parece que metade do espaço dedicado a memórias é para ela, tendo as outras que competir por um nada cativo lugar na metade sobejante. Correm os dias e lá está ela, no seu amplo T4, vagueando completamente nua pelo soalho flutuante. Pega numa refeição rápida e, entretida, olha para o mundo através dos meus olhos, o que dá azo a que se masturbe várias vezes. Podia dizer que era como viver com um bicho dentro de mim, contudo, não me incomoda, não me revolta, não me dá pesadelos nem suores frios, apenas ocupa espaço e está constantemente no meu consciente. Querem saber que memória é essa? É uma coisa que aqui há uns anos atrás, poderia dizer que para além de a mim próprio, não havia contado a ninguém, contudo, já não é assim. Às vezes contamos coisas às pessoas porque confiamos nelas ou então, em nós próprios. É uma coisa tipo, toma lá um pedaço da minha intimidade, porque mereces, eu amo-te e quero dar-to, depois, tudo muda e aquele pedaço não é mais que um naco de excremento que a outra pessoa tem de, obsequiosamente, guardar na memória.

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