quarta-feira, janeiro 21

o texto extremista.

1- há uma linguagem por debaixo da linguagem. Há outra ainda por debaixo desta, e, acumulada a um canto da boca, junto do cotão da língua, há ainda outra, mais profunda. É essa que diz o que nós sentimos e assim cenas, e como já defendi outrora neste blógue (palavra que me lembra fugazmente uma matéria inerte excretada), uma linguagem que é mormente expressa em dias ou noites em que o álcool é rei e senhor do meu corpo, olhos boca nariz ouvidos e pontas dos dedos incluídos. é um mistério por decifrar. semelhante ao obama ter chegado à casa branca. Inédito caso, auspicioso futuro lhe estamos todos desejando, glória seja dada ao cavaleiro do cabelo semi frisado, que, se por um lado deixa adivinhar as raízes africanas, por outro não deixa tresler que este senhor é mais branco que eu. só um branco teria a ambição desmedida que querer governar outros. porque, aliás, isto de querergovernarapetece-meagoradizer que não é uma coisa de pretos, é uma coisa de brancos e de pretos armados a brancos. aliás, apetece-meagoradizeristo: não tem a ver com o tom da pele, tem a ver com este ruminar incessante que vai cá dentro e que me faz querer ser melhor que esta pessoa gay que estava aqui ao meu lado, e que felizmente já se foi embora.OU então ser como o grande rei shaka zulu, como pudemos ver e testemunhar, em tempos, no canal 1 ou 2. Mas a linguagem, a linguagem, a linguagem. ah. as acções, o movimento, ah, o corpo, os teus olhos nos meus, deixa-me ouvir-te falar e ver-te os olhos a mexer, depois já sei que estás a mentir, ou a dizer a verdade quando dizes assim "amo-te" ou talvez ainda algo mais simples "sim, quero chá de canela e caramelo e maçã". Fico à espera de uma ligeira ondulação na minha voz quando respondo que quero o chá de caramelo, quando detesto aquela merda, ou julgo detestar, e depois entro no jogo de aparências que é viver e falarmos com outros. Quebrado ocasionalmente por momentos de pura amizade, de puro tesão, ou de um grande vinho, prái com 14 e meio, de uma cerveja belga, ou tudo isto junto - Deus seja louvado.
2- Vi o seguinte cenário ontem: um tipo vinha na rua da conceição, abrandando pois o sinal estava vermelho (não devia ser português). um taxista de trinta anos, branco, cabeça rapada e enlustrada, reclamando, apitando, bufando. passei pelos dois, o taxista ainda reclamava. era agora visível, alumiado pelo vermelho dos stops do carro em frente, a sua exaltação. a certa altura o taxista liberta um gesto. pá, juro que vi naquele gesto um macaco, algo de simiesco ali: os dois braços arqueados, jogados à frente, como se vê em documentários, quando os mamíferos felpudos estão frustrados com alguma cena (alguém que os tenta fazer ler uma merda, e eles à espera duma banana a pensar "ah, boa cientista, deixa.me sentir tuas tetas" ).  .afinal são uns anos que nos separam. vamos todos pensar nisto enquanto bebemos cerveja p.f.

Sem comentários: