sexta-feira, março 21

Poesia III

Um copo de vinho torna-me poroso
como se a dispersa areia do desejo
se concentrasse em lâmpadas lancinantes.
Então leio as mulheres sem vestidos
ao sopro da minha volúpia incandescente.
A violência do meu tacto voluptuoso
embate nas suas formas fascinantes.
São deliciosas panteras magnéticas
de flexível firmeza, de tersa densidade.
Imagens do meu corpo, espelhos da nascente
que no meu sangue murmura, são as pedras de toque
dos meus lábios errantes, do meu olhar sedento.
Porque estarão elas no mundo, para além da fronteira
da minha fome de identidade ardente?
Trespasso-as avidamente, envolvo-as na minha baba
e estendo-as sobre o muro da minha pupila acesa.
Toco as delicadas minúcias, apalpo a árvore viva,
acaricio uma maciça coluna magnífica
e num ventre sumptuoso como uma larga guitarra
afundo a minha cabeça exausta e enamorada.
Quem poderá enunciar o puro prodígio
de umas robustas pernas elegantes
como colunas vivas e amorosamente nuas?
Como é pungente a formosura e a vertigem
do desejo que a contempla na impotência
de a tornar sua, totalmente sua!
António Ramos Rosa

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