domingo, maio 25
sexta-feira, maio 23
domingo, maio 18
Reticências sem pontos
- Não gosto da Lúcia…
- Ui… Vem aí a conversa de novo…
- Eh pá, não gosto!
- Então mas…
- Não gosto e pronto!
- Mas porquê?
- Não sei…
- Foda-se, diz lá sinceramente de que amigos meus é que gostas? Vá… Diz lá…
- Gosto… Gosto do Gaspar… É muito querido! Aliás ele também é meu amigo… E o Costa também…
- E porquê? Em que é que eles são diferentes da Lúcia? É por ela ser gaja?
- Não… Também não gosto do Manel… Ele é estranho…
- Estranho? Foda-se… A sério… Os meus amigos agora são estranhos… Porquê? Achas que eles andam a beber mijo? E depois se beberem? Eu gosto deles, com mijo ou sem mijo!
- Eu sei, mas não me podes obrigar a gostar deles…
- Essa dou-te de borla… Mas não quero é que andes toda sorrisos com a Lúcia e a tratar o Manel por “querido” se depois é para ter sempre esta conversa quando estamos com eles… Foda-se… Sempre a mesma merda…
- Olha! Tu vê lá!
- Eu vejo lá o quê? És sempre a mesma merda! Não gostas de ninguém que me rodeie! És uma besta territorial e ciumenta! Nem sei como é que ainda te aguento as birras…
- Se não queres aguentar, não aguentes… Não quero ser um empecilho para a tua vida social…
- Ai não? Não é o que parece… Estás sempre a melgar… Blá blá blá… “Não gosto deste, não gosto daquele, não gosto do outro… Pára de olhar para aquela gaja, não faças isto, não gostas de mim…” PORRA! Deixa-me da mão!
- Não… me fales… nesse tom…
- Vai à merda!
- Não! Não vás, ‘mor… Eu amo-te!
- Amas o caralho! Só me dificultas a vida!
- Não! Não vás! Hey! Como é que vou para casa?
- Telefona aos teus amigos… Àqueles que também são meus, mas que tu usas para segurarem esta relação de merda, sabes? Telefona ao Costa, ou ao Gaspar. Eles até têm carro!
- Mas…
- Não te quero ver mais à frente! Adeus! E não me telefones!
- Eu mudo… Eu mudo por ti… Eu amo-te!
- Tu amas é o caralho! Nem de ti gostas!
- Mas…
- Tchau.
...
- Estou? Costa? Anda-me buscar…
- …
- O Miguel acabou comigo… E deixou-me no Guincho, sozinha…
-…
- Estou na merda…
- Está bem, eu espero… Mas vê lá se podes falar com ele…
-…
- Mas ele a ti ouve-te…
-…
- Foi por eu não gostar da Lúcia e do Manel…
-…
sábado, maio 17
terça-feira, maio 13
Queres o quê?
domingo, maio 11
looking gorgeous
FODA-SE PARA ESSAS LINHAS COR-DE-ROSA, VAZIAS E OCAS. DESAPARECE MAIS ESSA TUA MORAL ARRANCADA A FERROS DE UMA REVISTA DE AUTO-AJUDA:
sexta-feira, maio 9
Vazio com zê
quinta-feira, maio 8
"não só deus não existe, como tentem lá arranjar um canalizador num domingo à tarde"
terça-feira, maio 6
Zyrtec
sábado, maio 3
Se fosses minha irmã, matava-me no crepúsculo, no parque, naquele canto onde o odor a urina de gato e a fezes de cão é mais concentrado.
Se eu fosse preto...
sexta-feira, maio 2
Acid Jazz
- Tem cuidado…
- Eu sou cuidadoso. Não sabes já?
Ela contorcia-se a cada dedilhação dele.
- As… Hmmm… tuas mãos… aaaahhh… as pontas… parecem borrachas… Aaaahhmmm…
Ele embrenhava-se cada vez mais no improviso. Ouvia nitidamente a música na sua cabeça. O clítoris dela era um amplificador da sua associação livre musical.
- É isto… Ahmmm… o teu acid… tsssss… JAAAAZZZZZ…
Cada sussurro dela, cada gemido, compunham uma melodia penetrante. Soava-lhe a um saxofone sofrido, desgastado pelos sopros constantes e persistentes, perpetrados por todo o tipo de homens, ao longo da sua vida.
-Não…
- O que foi?
A preocupação dele foi forçadamente falsa. Não lhe interessava que ela sofresse ou não.
- Nada… Continua…
O improviso intensificava-se. Ele fazia escalas, frenético. Não parava num tempo. Os dedos fluíam pelos lábios lubrificados dela. O clítoris vibrava, como uma corda fustigada numa composição epiléptica.
- … jaaaaaazzzz…
- Chhhh… Continua a gemer. Pareces o trompete do Miles Davis.
Ela suava. Ele fuma um cigarro e continua a composição mentalmente.
- Toma, fica com o troco. Hoje tocaste bem.
-Cada vez mais fico mais apaixonada por ti… Não te quero cobrar… Faço-o com prazer…
- Não. Toma. Não gosto de ti, gosto da tua música.
quinta-feira, maio 1
Getting away with murder
O dia adormeceu despercebido entre a azáfama de quem, vencido pelo cansaço, deseja avidamente chegar a casa, e entre as passadas de esperança dos que caminham prosperamente ao encontro do ócio pós-laboral. À medida que a noite avança, as conversas e os olhares galgam ao ritmo da batuta que as cervejas, a pouco e pouco vão impondo para justificar as inconsistências da postura. Da mesma forma, também os movimentos soltos e desenfreados fluem naquelas claras tentativas de acasalamento a que hoje se chama dança, orquestrados pela música muito alta que os mais entusiasmados cantam de cor. Quando a partitura se esgota, tanto o álcool como a música abandonam o ambão, o dia prepara-se para acordar e o álibi primário que a dança ofuscava, desvenda-se agora em total nudez num último encore interpretado fora de tom e marcado pelo compasso monótono que os corpos forçam nas molas do colchão.
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Há que arrumar a casa e levar o lixo à rua. É necessário esconder as provas sob pretextos sociais. “Tinha saudades tuas” diz o olhar “deixa-me adormecer contigo hoje”. Quê?! Queres dormir cá? Agora tentas perpetuar o espectáculo para além do hoje? Nem dá, o verdadeiro actor só o é a tempo certo. Não se mascara a inércia emocional interpretando a tempo inteiro. A única saída para limpar os vestígios a que o vazio agora impõe é permanecer em palco: “É melhor não, tenho trabalho para fazer cedo de manhã, sei que se ficares vou preferir estar contigo durante o dia. Vá não te chateies, acompanho-te ao táxi se quiseres. Manda-me um toque quando chegares a casa para não me preocupar”.