segunda-feira, setembro 22

Ainda sobre os jogos.

há um restaurante japonês em campo de ourique que, de facto, é chinês. vendem sushi e cenas, mas, de facto, são chineses que cortam mecanicamente os filetes de atum e salmão. mal se entra sente-se uma certa gordura no ar, entranha-se logo no cabelo. talvez alguém tenha escondido naquele momento um baralho de majong (teresa guilherme: o josé ganhou dez mil euros. o 4º nível tem menos perguntas é verdade, e vai ter de ser totalmente verdadeiro josé). De qualquer forma, eu sento-me, mas não há tempo para sentar, para aquela indecisão tão comum nos restaurantes portugueses quando se entra e se senta: vou lavar as mãos cláudia mas, se quiseres, vai pedindo. Aquela conversa de ocasião que faz de cunha para outras conversas, mais sérias, mais profundas, mais bebidas. Não há tempo para isso ali. Sento-me apenas para me levantar de seguida, com o prato na mão. Depois há aquela irritação comigo próprio por ter acedido e estar neste momento num restaurante que é obviamente, uma farsa, e está cheio de betos, casais deprimentes e colegas de trabalho. Por vezes estas três categorias aglomeradas. Todos de pratinho na mão, num afã desgraçado para tirar o mais possível de peças de comida. Bronzeados, bonitos. deprimentes. BOM, o jantar passa-se, a gente fala. "Temos sempre tanto assunto para debater". Rapazes, raparigas, linguagem, amor, ah, o amor. Confessamos-nos um ao outro, quando as cervejas começam a fazer efeito. Gostamos de exibir a nossa eloquência ao casal do lado; sabemos que estamos a divertir-nos muito mais que eles e isso dá um certo gozo que ainda alimenta mais a conversa. Fazemos de conta que somos mesmo adultos, mas quando esse sentimento começa a ser demasiado óbvio damos um arroto, a coisa desvanece-se, afinal somos novos, que alívio. Sou eu que pago, estou a dever-lhe dinheiro há que tempos. Entretanto olho para os cartões do restaurante, enquanto por trás do balcão descaradamente de bar e não de restaurante, cabeças perfeitamente tosquiadas se inclinam ao ritmo avassalador do nigiri. São trezentos, quatrocentos, sei lá quantos centos de cartões. O número de telefone tinha sido corrigido, à mão, no primeiro. Todos, TODOS, os cartões tinham o número corrigido, à mão
caralho.

Sem comentários: