quinta-feira, setembro 25

Outono

A luz do dia não me acordou hoje, e faz já algum tempo que a corrente de ar não me vem despertar o raciocínio. Adormeci enquanto não sentia o sol nem o fresco da rua e entretanto perdi a coragem para ir àquela janela. Instalou-se o silêncio, nunca mais tocou a música. Já não vejo os carros nem o passeio, já não admiro a elegante deambulação felina, nem ouço os passos apressados dos sapatos; já não conto as garrafas abandonadas nos cantos, preenchidos de beatas. Acho que me levaram o chaço, deram-lhe meia volta e mandaram o vento fechar-me a janela para que a rua não me visse mais o quarto. A apreensão e o medo conquistaram a vontade de me levantar para ir abrir-la; Talvez já não seja aquela rua. Se calhar caíram-se-lhe as folhas das árvores e a chuva descrente varreu-as para dentro dos bueiros.
Não sei o que acontece lá fora, sinto saudades da roupa molhada e dos vasos de flores, ostentados na fachada do prédio em frente. Ainda assim, mantenho fé que se abram as portadas da janela que hoje me escondem aquela rua. Espero, então, vir a reconhecer-lhe o frenesim a que me acostumei.

Sem comentários: