quarta-feira, setembro 24

"Pior que não ter nada para vestir é não ter uma mulher para despir" A.J.Jardim

Agora que os anúncios me fazem ranger os dentes com ganas anarquistas, e com a lembrança de algumas festas de uma família que um fado pouco auspicioso me fez ter, queria dizer o seguinte: baseada numa espécie de necessidade desencadeada pelo valentemente pérfido e filho da puta mundo moderno, criou-se e sustem-se a ideia de que o ser humano individual é profundamente incompetente e que não consegue desenvencilhar-se sozinho. Criada esta mentira cabrona, torna-se então fácil encher o medo e a tristeza que fica com GPS, telemóveis, restaurantes e cenas gourmet, televisões, exposições, bifidus activos, holmes place, bronzeados sempiternos, etc. Tudo merdas que nos asseveram que, de facto, não precisamos de estar sós e além disso "Tudo o que vi estou a partilhar contigo". Está bem está, jorge palma, longe vão os anos em que tocavas no metro de Paris, ou até podia ser outra cidade menos charmosa, e esquece lá aquilo do Jeremias fora-da-lei, já não enganas ninguém pá. Há uns anos (não tantos assim que ainda sou novo) fui a Leiria com um amigo porque ele tinha lá uma miúda e queria beijar-lhe as maminhas porque já o tinha feito e ela tinha-lhe deixado o convite feito para outras oportunidades. Acontece que, nessa noite, estávamos a passar por uma daquelas igrejas, neo-igrejas, e estava escrito assim "Pare de sofrer" e ele ( o que sobejava de uma metade do cérebro numa mama, outra metade na outra mama) diz assim "Eu cá substituía esta merda por "Aprenda a sofrer". Eu disse qualquer coisa muito menos importante, porque era aquilo que contava: aprenda a sofrer, e não pare de sofrer. Estou em crer que é esta falsa sensação de que, um dia, paramos de sofrer, que alimenta precisamente o sofrimento. Quando me formar já nã sofro. Quando tiver um(a) miúdo(a) já nã sofro. Quando comprar um computador já nã sofro. Quando souber qual vai ser o tempo amanhã sinto-me mais seguro. Se tiver acesso a todos os meus amigos através deste mono que é o telemóvel já nã sofro. Está bem está jorge palma.
Onde eu quero chegar é este apeadeiro: mas para que caralho precisamos de um GPS? Somos porventura carteiros sempre perdidos, à procura de uma rua ignota, que ninguém sabe precisar onde está? Mas para chegar a Vila Real de Trás-os-Montes e daí para Queimada eu não posso ir perguntando? Mas ninguém acha que é besta fazer o que uma maquinazinha nos diz para fazer?Ela é mais inteligente que eu? Se calhar até é, mas ao menos eu tenho mais barba! Da próxima vez que estiver no carro de alguém com um gps e aquela coisa infernal se puser a dar indicações "vire na próxima à esquerda, cem metros" pego na merdinha e mando com aquilo pela janela. Vivemos nesta redoma bonita, muito ikea, obscurecida de dentro para fora e, portanto, toda e qualquer sombra que apareça, mesmo de um ratinho, é automaticamente ou esculachada ou temida porque nos escapa ao controlo, à nossa imperiosa necessidade de encontrar um planalto solarengo que a gente já conheça de outras caminhadas "alberto, vamos por aqui que eu já conheço este caminho e esse não me cheira". Se em cem pessoas há um criminoso, vale mesmo a pena ficar em casa e não conhecer as outras 76? Sim, se essas pessoas forem da sic.  Além do mais, e como ouvi uma vez nos batanetes, as mulheres que andam pelos piores caminhos são as que andam melhor calçadas. Mas são as mais giras.

1 comentário:

Espiral disse...

Concordo com tudo. Especialmente a parte do Jorge Palma...

Beijo*