quinta-feira, setembro 29
Isto pertence aqui
quarta-feira, março 19
The Raw Youth
In "O Adolescente", Fiódor Dostoiévski (edição portuguesa de 2003, tradução por Nina e Filipe Guerra. Original de 1875).
sexta-feira, julho 5
Gravidezes
quinta-feira, junho 27
Post saudosista
Reli alguns textos deste blog. Confesso que apenas li na integra os mais curtos ou os mais badalados. Li com gosto, com prazer até. Lembrei-me daquilo que fomos, um dia, em conjunto em directo e diferido. Lembrei-me das situações que originaram alguns dos posts. As conversas, as discussões, os monólogos onanistas a que alguém assistia por acaso. As reverberações apáticas, as observações penetrantes, as reminiscências saudosas.
Lembrei-me de quando não havia vacas sagradas, de quando tínhamos uma piada para qualquer ocasião, qualquer fenótipo urbano, qualquer desabilidade ou debilidade, qualquer má sorte na vida ou má vida na sorte. Lembrei-me que VIA as coisas e as pessoas. Os momentos surreais que surgiam espontaneamente transformavam-se em mais um elo na corrente que nos unia. E lembrei-me do tempo em que, se escrevesse uma frase que contivesse “(…) mais um elo na corrente que nos unia”, seria gozado por mim próprio por estar a perder o mísero orgulho literário que sentia ao escrever alguns dos meus textos. Hoje sinto pena de mim não só por ter escrito esta frase, mas principalmente por não a ter apagado e substituído por algo realmente belo e com significado. Não que uma corrente invisível a unir um grupo de tipos com interesses relativamente próximos seja uma ideia feia, apenas é uma ideia tão gasta como um pré-reformado por invalidez.
Senti-me de novo nas horas surreais do Bairro, em que acontecia sempre algo digno de Man Ray ou de Buñuel nas ruas, nas pessoas, em nós. Apesar de as lentes do álcool distorcerem a realidade tornando-a mais real, penso que talvez me sentisse noutra dimensão se me cruzasse com as mesmas pessoas, com as mesmas situações, hoje, a uma hora qualquer, a uma qualquer sobriedade.
O dinheiro corrompe. Muito ou pouco, corrompe. Éramos pobres, muitas vezes a pedinchar algum dinheiro aos pais para sair e beber umas litrosas enquanto dissertávamos sobre o real significado do que fazíamos ali, sem sequer falarmos directamente disso, ou nos claustros da faculdade, ou na pensão, ou num qualquer café ou esplanada, ou numa qualquer caminhada. No entanto, a cada gole, a cada piada, questionávamos o que poderíamos fazer de melhor ou de diferente do que estar ali, juntos e a compartilhar o que nos movia. A resposta a esta questão nunca colocada era sempre a mesma: podíamos estar em qualquer lugar, mas nunca seríamos tão genuínos da nossa miséria como aqui.
Somos diferentes, sempre fomos diferentes. Sempre quisemos ser diferentes, apesar de admirarmos as nossas diferenças. Nunca quisemos ser o outro, mas admirava-mo-nos. Apesar disso, retive um comentário de uma leitora/comentadora de um post do Homem da Fruta, que inicialmente ela pensava ser do Nada. Esta leitora/comentadora escreveu, numa citação livre e de memória da minha parte, que “estão a ficar todos parecidos” (nota: esta leitora/comentadora era parte da horda de seguidoras/conquistas/rejeições do Nada, esse séquito que nos seguia para acompanhar a evolução literária deste que agora é o nosso escritor publicado, e que contribuiu para a visibilidade deste blog, pelo menos num período determinado). Realidade: não éramos parecidos. Realidade: tínhamos muitas parecenças. A genuinidade com que olhávamos e sentíamos o mundo era partilhada. Também o cinismo e o descontentamento mundano nos tornavam parentes próximos no sentir.
Gosto-vos e sinto-vos a falta. Como ser complexo e social, sinto um défice na minha pessoa. Não sou completo sem vocês, e só a vossa memória serve de placebo.
Ao reler o blog, lembrei-me de dois versos meus de um poema sofrível. Dos versos, apenas um é originalmente meu, sendo o primeiro adaptado/roubado do Molero de Dinis Machado. Ao ler o blog senti o seguinte: “Coração: bússola doida/Não há só o norte, há também a vida”. Explicando: não vou explicar pois perde a beleza. Explicando: não há só trabalho, há também o resto. E nesse resto, entram também vocês.
Digam alguma coisa, vá. Não sejamos tímidos nas vossas geografias e partilhe-mo-nos mutuamente. Que se foda o facebook, que se foda o twitter. Falemos todos, novamente, como no passado. Façamos uma última ceia com o nosso messias inexistente ao centro, ou com um jarro cheio ou meio vazio como messias.
No outro dia, bebi uma sangria da ginjinha das gáveas e soube-me a saudade. Soube-me a surrealismo, a bizarria, a melancolia, a desgosto, a sarcasmo, a vida, a amizade.
Aqui segue uma sample de uma conversa, pelo finado Messenger entre dois elementos deste blog, Homem da Fruta e Chigurh, só para ilustrar o que se passava:
Homem da Fruta: já foste sair com a c!@_b&7’?
Chigurh: foda-se não
HdF: era giro
C: era o que me faltava
HdF: perguntares "então, c!@_b’@, gostaste de levar na cona?"
C: ahahaha
C: assim do nada
HdF: e a $0r&7’ responder "sim, ela gostou muito, e é squirter"
C: ahahaha
C: era muito bom
C: podia ser que calasse a conversa do trabalho da $0r&7’
Hdf: "ao inicio sentiu-se envergonhada, porque pensava que o orgasmo era o mesmo que mijo, mas depois eu expliquei-lhe que era uma coisa, que algumas senhoras têm"
C: Ahahahhaha
C: muito bom
C: devias por isso no Blog
HdF: "agora até já se masturba... o inconveniente é que tem de lavar o chão muitas vezes, senão fica peganhento"
C: a $0r&7’ estava lá para gemer
Quatro ou cinco anos depois desta conversa, finalmente está postada no blog. Quatro ou cinco anos depois da personagem ter perdido a virgindade.
Digam coisas, vá.
sexta-feira, março 15
C sharp
quinta-feira, fevereiro 23
segunda-feira, janeiro 16
O problema das empresas grandes
O problema das empresas grandes é que existe sempre alguém com diarreia explosiva que suja o wc que partilha com o resto da empresa.
quarta-feira, abril 6
Silicone
terça-feira, abril 5
mjam mjam
sexta-feira, abril 1
terça-feira, fevereiro 22
Spam (que outro título?)
Escrevo mais uma vez o meu endereço de e-mail e password. Enter. Nada de novo. Newsletters de sites de emprego duvidosos, muito spam, muito lixo. Ofertas de uma sessão de talassoterapia por 21€. Ainda me questiono se a minha mãe ia gostar.
Base de dados. Actualização. Inserção de dados. Fico feliz por ter acesso ao meu mail, por poder ver, nos momentos mortos, os mails em corrente com o último cartoon sensação, ou com uma piada reciclada sobre um acontecimento recente. Refresh no e-mail. Nada de novo. Refresh. Refresh. “Get V14GR4, 50% OFF”. Spam, spam, spam! Sinto-me por momentos, num sketch dos Monty Python.
Entrevistas de meia em meia hora. Tentar convencer pessoas a aceitarem um projecto caduco. “Vai ser uma óptima porta de entrada. A evolução na carreira é inevitável. É um projecto interessante para si. Vai aprender muito. Vamos contar consigo. A remuneração aumenta de acordo com o seu esforço e os seus resultados.” Secretária de novo. Relatórios de entrevistas com os mesmos veredictos: “Vai dizer alguma coisa amanhã. Neste momento, tem outros projectos mais interessantes. Não é o projecto que pretendia.”
Escolhi (ou fui escolhido) para a profissão errada. Odeio pessoas. E tenho de falar com elas, sorrir para elas. Lidar com a sua estupidez. Com 4ª classe, com doutoramento, são todos estúpidos. O que me faz odiar as pessoas é pensarem que me podem enganar e tomar-me por estúpido. Não sou estúpido. Repugna-me a estupidez. Spam, spam, spam! Informação inútil, que nos é imposta. “Faço parte do 3º Agrupamento de Escoteiros. Fui voluntária num lar de idosos. Fiz uns trabalhos por fora na área do entretenimento.” Muito me contam. Que bom, digo eu. Isso é muito estruturante, digo. É uma óptima experiência, digo eu. Mentira. Não é interessante, não contribui para nada. Têm o tempo ocupado. Óptimo.
Reuniões. Como modificar algo que está caduco à nascença, que outro tipo de estratégias podemos implementar para melhorar os números, não estamos a conseguir atingir os objectivos, o budget não comporta a estrutura do projecto. Spam, spam, spam!
Tenho de conseguir mais pessoas, tenho de conseguir colocar mais pessoas a trabalhar numa função odiosa e mal paga. Números. Números, números, números. Spam, spam, spam!
Os dias começam bem, sem percalços, com as notícias da rádio a acordar. Um sismo do outro lado do mundo, um líder da oposição crítico, a crise financeira a agudizar-se. Nada de novo, tudo na mesma. O ar fresco das manhãs de Outono na face limpa e fresca sabem tão bem como os dentes lavados depois de acordar, a nada de novo. Os transportes públicos que, às primeiras viagens da manhã, já têm um forte odor a ser humano fora de cativeiro. Olheiras, bocejos, alguém a comer uma merenda mista ou um folhado de salsicha por pequeno-almoço. Jornais de distribuição gratuita esquecidos (ou desprezados) nos bancos. Spam, tudo spam. Spam, spam, spam.
O entusiasmo da chegada ao escritório é fulminado pelo “bom dia” azedo de colegas com quem nunca se fala a não ser de números, ou pelo olhar propositado sem palavras que diz “tu não pertences aqui, não mereces estar connosco, não és digno da minha simpatia”. Crostas de snobismo e de inércia racham à tentativa de início de diálogo, mas não quebram. Desisto. Sinto-me com vontade de ficar na varanda dos fumadores o dia todo a ler a “Anna Karénina”. Apesar de obra-prima, tem spam. Páginas e páginas acerca do sistema agrário russo da última metade do século XIX. Não me interessa, apesar de ser um justificativo para o agnosticismo de Lévin, que mais tarde se reconverte ao cristianismo, depois de uma epifania, onde chega à conclusão de que sempre seguiu as máximas cristãs. Refresh no e-mail. Nada de novo. “Hi from an old friend!”, “Enlarge you p3n1s”, “Have your college certificate, from Harvarb University”. Spam, spam, spam!
Se odeio pessoas, a minha profissão é a adequada. Seleccionar pessoas, decidir sobre o seu futuro profissional. Ao odiar todos, vejo-os como iguais, não caindo na tentação de beneficiar alguém por simpatizar mais ou menos com uma ou outra pessoa. Todos são iguais. A mesma corja inane, monocromática e monoplasmática. Estúpidos, todos. Inúteis que nos são impostos. Spam.
quarta-feira, fevereiro 16
sexta-feira, fevereiro 11
O que p´rái vem
Além da moção de censura, o Bloco podia propor uma mocinha de biquini. E o Carnaval que está quase aí à porta...
Latagonas tugas a abanar o courato com collants de lycra para não se notarem as elevações topográficas celulíticas, ao som de um qualquer sambinha polifónico. Como é lindo o carnaval de Loures...
segunda-feira, janeiro 31
terça-feira, janeiro 25
Amigo Ubíquo
domingo, janeiro 16
Portuguese psycho
terça-feira, dezembro 7
segunda-feira, dezembro 6
sexta-feira, dezembro 3
Deixemo-nos andar.
sábado, novembro 27
sexta-feira, novembro 19
Lei
quarta-feira, novembro 17
quarta-feira, novembro 10
do Avesso
sábado, novembro 6
Animal
Somos irmãos
segunda-feira, novembro 1
Auto violação
domingo, outubro 24
O Desejo Anal, ó jovem idade!, em Oliveira do Hospital
quinta-feira, setembro 30
Apenas mais uma história para o seguinte.
segunda-feira, setembro 27
Coimbra
quarta-feira, setembro 8
Uma breve história sobre o tempo
terça-feira, julho 20
sábado, junho 26
Pela noite dentro... (não ler antes do anterior)
Da minha janela.
sexta-feira, junho 25
Todos somos potenciais ditadores
segunda-feira, junho 14
Esta Madrugada
domingo, junho 6
Mais um dia
domingo, maio 23
Receptáculo
segunda-feira, maio 10
Papa aqui
terça-feira, maio 4
sexta-feira, abril 23
quinta-feira, abril 22
leitura 4 ou quotidiano
leitura 3 ou identidade
terça-feira, abril 20
quarta-feira, abril 14
leitura 2 ou missão
leitura 1 ou memória constructiva
sexta-feira, março 26
sexta-feira, fevereiro 26
CRETINA
Sei lá eu do medo. Quem me dera ter medo, uma coisa declarada, uma evidência empírica com correlato na sudação.
Apesar de todo o nervosismo que a insegurança gera, apesar dos receios e complexos nascidos num passado remoto, não obstante a falta da mínima confiança visceral ou lógica, a noite corria sem grandes surpresas, aparentemente, não havia uma novidade que fosse. Claro que ela não fez o jantar, alguma vez… bicos de pés, um pé 39 a bater no chão em forma de protesto, uma inclinação sob o balcão, um agachamento que faz algo em mim soltar um guincho de desespero tal é a visão… sim, partem de umas longas pernas e… que grandiosos glúteos encerram aquelas calças de pijama que estão muito justas e rotas num joelho, às quais ela dá outro nome (leggins?) – petulante volúpia, jovial pecado que cativa mas ao mesmo tempo, impõe o respeito de uma noite de gutural trovoada ou da entrada de uma magnânime catedral alicerçada em esqueletos e mentira humana. Medo? não, mas a distância e o desconforto miudinho são vibrações que em gente fraca e miserável, do calibre aqui do vosso reles autor, conseguem perturbar coisas há tanto tempo estáveis e cristalizadas. E o vosso autor… o vosso autor é feito de matéria que tem tanto de fraco como de lábil, o seu temperamento é volátil e não raras são as vezes em que o faz parecer um demente cheio de pretensão.
E foi no preciso momento em que a luz eléctrica foi preterida às velas que ela profere a seguinte frase que me tornou numa espécie de invertebrado pronto a esmagar: «…eu não te minto, mas omito imenso.» O silêncio reinou e a minha retina, enfim, sei lá eu o que aconteceu ao raio da retina; extinguiram-se os ruídos parasitas que da rua invadiam a sua casa pela janela aberta; olhei-a e o seu olhar que mantém sempre algo de alucinado, mais que provável metabolito de uma noite de drogas pesadas e memórias apagadas, indaga-me e é como se me perguntasse de forma agressiva: «algum problema com isso?» eu em silêncio tento articular qualquer coisa e aquele olhar continua a sugar-me o discernimento e a masculinidade.
Claro que há problemas com isso, claro que se tudo corresse bem, poderia ter um certo grau de relaxamento e enfrentar a infeliz confissão, agora assim neste decrépito estado de coisas, com esta humidade já bafienta… Se ao menos ela tivesse mentido e forçado um sorriso num momento oportuno, se houvesse ousado dizer que me achava belo ou pelo menos, parcialmente tragável, se me elogiasse o beijo, os dedos dos pés, se tivesse dito que gostava de mim ao invés de pedir com desesperada sofreguidão de quem se apercebe que não vai ter um orgasmo, para lhe chupar os lábios com mais força, ai sim, talvez eu descontraísse um pouco e conseguisse não ficar completamente atordoado por tamanha revelação. Mas medo, não.
Pela rua da politécnica vou apressado para o metro prestes a fechar, a chuva é miúda e refresca-me os calores forjados pela fricção do nervoso com o insucesso. Um pouco mais ao fundo vem uma tipa gorda de coxas gelatinosas, que corre durante um par de passos agitando a sua mala vermelha, depois, com um ar de atroz sofrimento, retoma o trote. Lá vou eu, ainda passo por uma espécie de festa na faculdade de Letras e ao invés da raiva habitual que nutro por quem vai a festas e grita no meio da rua sem ser por simples insanidade, sou complacente e penso algo como «estão a viver os melhores dias da sua existência», mas nem quero saber disso para nada.
Deito-me, decido sabotar a TV e fico um bocado triste por não teres convidado esta reles carcaça a dormir nem que fosse, no teu sofá. Mas medo? Não, não tenho medo.